O presente trabalho é uma interseção das nossas pesquisas de doutorado, que abordam individualmente a subversão do sonho americano e os contornos de pânico político no horror norte-americano. Nesta colaboração, buscamos analisar a recorrência cíclica do fim de mundo em obras estadunidenses do século XXI que abordam paranoia e conspiração, detendo-nos particularmente em duas décadas distintas: os anos 1990 e o segundo decênio dos anos 2000. Tomando como objeto de análise a continuação da série televisiva “Arquivo X” - que estreou a sua décima temporada em 2016, após um significativo hiato de quatorze anos – buscamos categorizar os elementos que produzem e sustentam cenários escatológicos e distópicos na produção cultural norte-americana. Uma vez que o material da série se apresenta vasto e variado, decidimos não nos determos em episódios específicos, selecionando para a nossa análise alguns taglines que embasaram a construção do chamado “arco mitológico” da série. São eles: “A verdade está lá fora” (The truth is out there), “Não confie em ninguém” (Trust no one), “Negue tudo” (Deny everything), “Acredite na mentira” (Believe the lie) e “Este é o fim” (This is the end). Alinhavando a nossa crença de que a conjuntura atual (brasileira e estadunidense) está reproduzindo a ansiedade paranoica pré-11 de setembro do fim dos anos 1990, encontramos suporte teórico em Fredric Jameson, Daniel Gardner, Elizabeth K. Rosen e Mary Manjikian e literário em autores como Don DeLillo, que em seu romance mais recente, “Zero K” (2016), postula que “todos querem ser donos do fim do mundo”. Nosso trabalho busca localizar características endêmicas da identidade estadunidense que apontam traços desta obsessão de propriedade do fim do mundo e examiná-las à luz de um nebuloso 2016. A série “Arquivo X” é composta por uma abordagem audiovisual que se expandiu além dos 208 episódios transmitidos pelo canal de televisão Fox e ganhou dois filmes: “Fight the Future” (1998) e “I Want to Believe” (2008). Mais do que analisar o material da série em sua pluralidade de gêneros e subgêneros (uma combinação de ficção científica, horror sobrenatural, mistério e melodrama) buscamos identificar em sua mitologia elementos tipicamente estadunidenses que refletem e atualizam a história política do país, sobretudo a partir dos anos 1960. Desta forma, interessa-nos explorar os aspectos da série que sugerem na temática do fim do mundo uma alternativa de avanço empreendedor reminiscente dos frontierman, apontando assim para uma perspectiva de reforço, e não embaçamento, do ideal heroico estadunidense.
Palavras-chave: PARANOIA, CONSPIRAÇÃO, ESTADOS UNIDOS