A memória é frequentemente vista como uma forma de escrita. O interesse deste trabalho é examinar a possibilidade do esquecimento ser também visto como um modo de escrita, diluindo, assim, a oposição entre memória/esquecimento. Aquilo que foi esquecido não é um retorno à página em branco, mas uma mancha, um resto de texto, de história, uma imagem. É a partir desta formulação de esquecimento que pretendo desenvolver minha a fala na apresentação do seminário. Farei isto, através de três imagens: The Hoang Ly Church ruins, do artista vietnamita e dinamarquês, Danh Vo, das “sombras de Hiroshima”, imagens inscritas pelos corpos aniquilados na explosão da bomba no dia 6 de agosto de 1945 e ainda um trabalho de minha trajetória como artista pesquisadora sobre os desaparecidos da ditadura civil militar no Brasil. Este último, associando-se aos meus próprios arquivos de família e as histórias relatadas a partir desse arquivo e de seu possível acesso através de uma narrativa de alguém que se esquece e recria o que viu e viveu. Pretendo, portanto, compreender o discurso possível do esquecimento e poder ver as marcas deixadas por aquilo que já não está mais presente, pelo que foi apagado, deslocado, esquecido. Mas que existe ainda.