Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
CORPO E ARTE: O USO DO MATERIAL HUMANO EM PRÁTICAS ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS
PATRÍCIA JERÔNIMO SOBRINHO
O corpo muda, sofre alterações, modifica-se, e, de maneira infalível, forma parte de uma ordem simbólica presente em cada sociedade. Na literatura, na pintura, na fotografia, na escultura, na filosofia, na sociologia, são encontradas diferentes tentativas de reivindicar, estudar, analisar e representar os enigmas e segredos que envolvem o corpo. Não se pode mais negar que o conceito de corpo é uma construção elaborada social e culturalmente. Ele define e traduz um conjunto de ideias-símbolos resultantes de um sujeito que é modelado a partir do social. O corpo tem sido regulado, perfurado, pintado, mutilado, deformado, transformado, mas não tem deixado de significar algo. No mundo das artes, sua representação também vem se modificando ao longo da história da arte, revelando que ele sempre ocupou, de um modo ou de outro, o centro de atenção de artistas. Na Idade Média, o corpo tinha uma dimensão sagrada. Com o Renascimento, surge a representação de corpos harmônicos e belos. Já na Modernidade, o corpo começa a ser representado de maneira desfigurada. E na Contemporaneidade, a arte vem possibilitando uma abertura a outras formas de perceber, de sentir e de experimentar o corpo. Este ganha um novo espaço de expressão que, na esfera da arte, teve seu início com o advento da "Body Art", nos anos 70. Já não se fala de uma “representação” do corpo nas artes, como pode ser verificado na história da pintura e da escultura, mas da “apresentação” de um corpo vivo na arte. Na atualidade, os cânones ocidentais de beleza anatômica – o corpo representado de forma idealizada, com uma conotação divina, sendo mostrado sem defeito, tal como nas pinturas de Michelangelo e Leonardo da Vinci – deixam de ser o objetivo principal da obra. Surgem assim, propostas artísticas que ultrapassam a simples representação do corpo anatômico. Muitos artistas contemporâneos têm utilizado o corpo como uma ferramenta para a criação de suas obras de arte, baseando-se no sofrimento físico para causar um impacto na sociedade. Um desses artistas é o brasileiro Fábio Magalhães que, com a “visceralidade” de suas obras golpeia a condição mais profunda do ser humano. Suas obras colocam o observador em uma situação que não é mais contemplativa, porém que requer uma atitude ativa, de sensibilidade, percepção e reflexão. Tomando como exemplo algumas pinturas do artista Fábio Magalhães, este artigo tem como objetivo discutir o uso do material humano em práticas artísticas com o objetivo de desestruturar o estado normal das coisas. Para tanto, utiliza como escopo teórico autores como Le Breton (2011, 2007, 2003), Perniola (2005), Santaella (2004) e Matesco (2009).
Palavras-chave: CORPO, ARTE, CONTEMPORANEIDADE
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