Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
AS HORAS DE VIRGINIA WOOLF
VICTOR SANTIAGO SOUSA, ANA CRISTINA DE REZENDE CHIARA
Para que serve a literatura? O que os mundos ficcionais podem trazer de benefícios para nós, leitores? Que legado é esse que nos foi deixado por milhares de escritores? Como lidar com uma herança tão rica e tão nebulosa ao mesmo tempo? Estas questões surgiram a partir do ensaio Uma nova proposta para o novo milênio, no qual o escritor argentino Ricardo Piglia reflete acerca do futuro da literatura, tendo como base uma série de conferências que seriam ministradas por Ítalo Calvino, em 1985, em Harvard sob o título de Seis propostas para o novo milênio. De acordo com Piglia, Calvino objetivava enumerar valores e características próprios da literatura que mereceriam ser conservados na posteridade. A leveza, a rapidez, a exatidão, a visibilidade e a multiplicidade são, para Calvino, valores lapidares para a literatura. No entanto, Calvino falece antes de concluir suas conferências, concluindo apenas cinco de suas seis propostas. Piglia, por conseguinte, lança-se na empreitada de discorrer sobre esta possível “sexta proposta” e faz indagações acerca do que a literatura pode postular e das possibilidades de termos efetivamente uma “literatura potencial”. Partindo do pressuposto de que a literatura cria um mundo alternativo-virtual, transita por épocas diferentes e caminha para um futuro incerto, Piglia propõe e agrega a ideia de deslocamento e de distância à lista de Calvino, entendendo o potencial literário como algo que está em constante movimento, em trânsito, que viaja no tempo e no espaço em busca de outras vozes, outros entendimentos. Portanto, em consonância com o “Simpósio Biopoéticas: experimentos contemporâneos de arte e de literatura no Brasil e na América Latina”, o presente trabalho pretende trazer à baila reflexões concernentes a este fazer literário em trânsito, andarilho, que viaja no tempo carregando heranças de autores de épocas distantes e tensiona vidas, não apenas dos leitores, mas também a vida dos escritores que empreenderam tal movimento. Ademais, pretende-se contemplar os benefícios de pensar a literatura como uma trama que conjuga e põe em xeque a noção de verdade e entrelaça subjetividades de quem escreve e lê uma obra. Esta empreitada terá como suporte a obra The Hours (As horas), do ficcionista americano Michael Cunningham. Esta produção literária é um ótimo exemplo para se pensar esta ideia de deslocamento na literatura, pois coloca em tensão os fazeres literários de escritores de épocas completamente distintas. Cunningham ficcionaliza a escritora britânica Virginia Woolf, misturando realidade e ficção e mostrando como um dos livros da escritora – o romance Mrs, Dallooway – afecta e movimenta a vida de uma leitora. Através de uma relação de "devir"(DELEUZE, 2011), Cunningham conecta-se com outra época com outras formas de pensar e ver o mundo, e, de forma inventiva, tenta acessar e explorar os recônditos da mente de uma figura que não está mais entre nós. Portanto, devir-autor, devir-personagem e devir-leitor serão chaves de leitura lapidares para pensarmos os caminhos e a força motriz da literatura.
Palavras-chave: VIRGINIA WOOLF, MICHAEL CUNNINGHAM, DESLOCAMENTO, DEVIR
voltar