Desde seu primeiro romance Die Blechtrommel, 1959, Günter Grass promoveu debate a respeito da sociedade alemã ao longo e pós Segunda Guerra Mundial, de forma bastante crítica e polêmica, principalmente quanto ao papel do indivíduo pequeno-burguês nos crimes perpetrados na guerra e ao processo de culpa desencadeado com seu final, especialmente ao que se denominou como “culpa coletiva”. A perspectiva do romance é de Oskar Matzerath, narrador-personagem que nos oferece o olhar deformado acerca do horror do regime nacionalsocialista. Esta deformação do ponto de vista do narrador possibilita a reflexão sobre os fatos narrados, sobre a importância do não esquecimento da catástrofe ocorrida e a necessidade de uma visão crítica sobre a sociedade alemã, sua culpa e responsabilidade sobre os acontecimentos. Considerado pela crítica a “voz da consciência alemã”, o autor se consolidou como um dos maiores críticos e também como um dos maiores escritores da prosa alemã do século XX. Em 2006, o autor publicou sua autobiografia Beim Häuten der Zwiebel. Neste volume, Grass apresenta suas memórias e faz revelação que surpreendeu o universo literário a ponto de ter sua credibilidade questionada: sua participação na Segunda Guerra Mundial como membro da Waffen-SS. Os questionamentos promovidos pela revelação entram em choque com a imagem inicial construída e divulgada gerando novas interpretações a respeito do papel do autor e sua obra. Para muitos, a obra de Grass hoje tem um outro significado e esse tipo de interpretação, precisa ser investigada com cautela. Die Blechtrommel e sua obra continuam sendo significativos para literatura alemã por tratar e discutir as experiências da Segunda Guerra, o holocausto e a culpa. A obra de Grass hoje poderá ser entendida de forma mais complexa e permitir uma reflexão mais aprofundada sobre questões importantes como responsabilidade e culpa, que são centrais à discussão desse período histórico.
Palavras-chave: LITERATURA ALEMÃ, AUTOBIOGRAFIA, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL