Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A AUSÊNCIA DO NARRADOR E O PROTAGONISMO DAS PERSONAGENS EM “O QUE CADA UM DISSE”, DE LUIZ VILELA: ENTRE CORTES E ENQUADRAMENTOS
PAULIANE AMARAL
O protagonismo do discurso direto como estratégia narrativa pode ser visto como uma das marcas da obra de Luiz Vilela, transpassando grande parte de seus contos, romances e novelas. Analisar a forma de organização e apresentação do discurso das personagens é o ponto de partida para nossa proposta de leitura do conto “O que cada um disse”, que integra a coletânea Você verá (2013). Nesse conto, o diálogo entre as personagens se dá apenas à medida que seus depoimentos surgem lado a lado, quando essas personagens se reportam a um mesmo interlocutor. Porém, além do interlocutor, enunciado apenas por inferências coletadas nas pistas dadas pelo discurso de cada personagem, há nesse conto o que Rauer Ribeiro Rodrigues chama, na tese Faces do conto de Luiz Vilela (2006), de “narrador ausente”, quando há o apagamento de qualquer marca de enunciação do narrador. A ausência do narrador, subsumido pelo testemunho, gera um efeito de sentido sui generis: permite às personagens representarem, através de suas falas, diferentes esferas sociais, gêneros, faixas etárias etc., gerando o que Mikhail Bakhtin denomina heterodiscurso. A estrutura da narrativa desse conto dialoga, por sua vez, com a linguagem cinematográfica, quando transforma o leitor em espectador, omitindo a presença do narrador em sua função de mediador. Mas o “narrador ausente” desse conto funciona menos como um diretor que orienta a ação dos atores/personagens e mais como um montador, que seleciona o que será exibido ao espectador/leitor, valendo-se de recursos de linguagem compartilhados pelo cinema, a exemplo dos elencados por Marcel Martin em seu clássico livro A linguagem cinematográfica (1955). Assim conjugadas, a força da oralidade da “língua comum” de cada personagem, acrescida da ausência de um narrador nos moldes convencionais e o uso de recursos da linguagem cinematográfica marcam não só uma escolha estética, como um posicionamento ético do autor-criador.
Palavras-chave: Bakhtin; Heterodiscurso; Linguagem cinematográfica; Narrador ausente; Narrador-montador
voltar