Gilles Deleuze e Félix Guattari foram dois filósofos franceses que juntos iniciaram uma significativa discussão sobre a relação entre Capitalismo e Esquizofrenia. Avessos à teoria de Freud, esses estudiosos se propuseram a refletir sobre a conduta do sujeito esquizo a partir de uma proposta de análise alternativa, contrária e bastante irônica: a esquizoanálise. Eles exercitaram esse trabalho de forma significativa no caso de Antonin Artaud (1896-1948), um poeta, dramaturgo, ator, teórico e esquizofrênico diagnosticado, que provou na pele o despotismo dos métodos psiquiátricos do começo do século XX, mas que mesmo assim se manteve extremamente consciente e ativo em suas funções sociais, principalmente de intelectual e escritor. Partindo dessas discussões, este trabalho objetiva abordar sucintamente a conduta da escrita literária de Clarice Lispector e de Antonin Artaud, refletindo como esses autores exercitam uma linguagem experimental que, seguindo as ideias de Gilles Deleuze e Félix Guattari, chamo de esquizofrênica. Nos textos de Artaud é notória a presença de inúmeras outras “linguagens” mescladas à sua escrita, sem falar nos projetos puramente picturais compostos de desenhos, pinturas, retratos, autorretratos, etc. Em Clarice Lispector esse movimento é mais sutil, mas a recorrência à música, à pintura, linguagem do corpo, etc. também é teorizada de forma muito significativa dentro de sua escrita. Destaca-se que a autora também pintava e que a maior parte de sua obra pictórica foi feita logo após o término do processo de escrita do romance Água Viva (1973), o qual retrata as experiências de uma pintora que decide escrever. Pensado nessas confluências entre o signo linguístico e outras linguagens, pretende-se refletir sobre o funcionamento das expressões literárias de Lispector e Artaud que, cada um à sua maneira, exercitaram dicções artísticas que fogem do imperialismo da palavra, em favor da experimentação de signos mais sensíveis.