Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
PERIGRAFIA E "PERIAGENTES": CONFORMAÇÃO AUTORAL A PARTIR DOS TEXTOS QUE CAMINHAM AO LADO DA NARRATIVA
MARIANA DUBA SILVEIRA ELIA
A comunicação pretende sugerir uma discussão acerca das formas de emergência da figura autoral a partir tanto da construção da narrativa ficcional quanto pela via da intervenção do outro. Ao questionar a ideia de uma criação textual absoluta, entregue à editora finalizada pela inspiração única do autor, e ao considerar a atuação de outros agentes, enfatizando assim a força do olhar do outro — principalmente o olhar especializado de editores, agentes e demais profissionais ligados às editoras —, reavalia-se o processo de concretização da escrita literária. As implicações desse processo consequentemente recaem na maneira como se forja aquele que assina o texto e estampa o nome na capa do livro. Como fundamentação teórica, nos debruçamos sobre os textos que se colocam ao redor da narrativa, como os textos de orelha, as minibiografias e as notas do editor. Segue-se assim a pista de Garamuño quando diz que, “deste modo, o desbordamento de limites é levado ao extremo do limite próprio do livro — a orelha. Outra estratégia com que a ficção, em seu limite externo, se confunde com a realidade e a complica” (Garamuño, 2014). E sugere-se que os paratextos formam uma espécie de moldura (Compagnon, 2007) que circunscreve o texto central, fazendo com que o leitor absorva o que se convenciona como importante para acessá-lo, inclusive certa imagem do autor. Retomando as considerações de Compagnon (2007) a respeito do controle sobre a língua exercido por esse sujeito apontado como autor, refletimos sobre a conformação da figura autoral, que ocupa espaços de poder, legitimidade e articulação entre duas esferas, real e ficcional. Propomos pensar o intricado movimento de agentes, sob essa articulação, para vislumbrar o contorno que se dá ao autor como uma instância mítica (Barthes, 1987; Klinger, 2014) e destronada da primazia do sentido. Tentaremos então trazer alguns elementos que caminham junto do trabalho de escrita ficcional e da formulação de figurações autorais. Nossa sugestão é de que paratextos agem diretamente na construção de um imaginário autoral e agentes que participam da construção textual acabam também por delinear os contornos da figura do autor. Dessa forma, a perigrafia impede o vazamento das palavras da moldura textual e as muitas mãos que rasuram o original (circunscr)escrevem o corpo do autor, a seu deleite e observância. Finalmente, o pano de fundo do trabalho é a sugestão de que, apesar de o século XX — desde Mallarmé, Saussure a estruturalistas franceses e todos os desdobramentos seguintes — ter nos mostrado que a instância autoral não se encontra em posição de soberania sobre a obra e sobre a interpretação que dela se faz, permanece algo da aura do criador, de essência romântica (e com “essência” queremos retomar o caráter oitocentista da ciência total e essencial, mas também o aroma que permanece no ar). Tudo indica que essa constituição ambígua, talvez contraditória, perpassa a compreensão do conceito de autor nos dias atuais.
Palavras-chave: AUTORIA, MERCADO EDITORIAL, PERIGRAFIA
voltar