Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A REESCRITA DO AUTOR EM BORGES E OS ORANGATANGOS ETERNOS DE LUIS FERNANDO BORGES
TATIANA DA SILVA CAPAVERDE
A autoria é um conceito que conjuntamente com os de originalidade e autenticidade assumem diferentes valores e sentidos no decorrer da história. Entre a crítica literária, o papel e o valor atribuídos ao autor variam tanto quanto o valor atribuído aos procedimentos de imitação e inovação literários, havendo uma oscilação entre preservar a tradição e renová-la como critério de qualidade artística. A partir da morte do Autor (FOUCAULT) e seu posterior renascimento (BARTHES/AGAMBEN) o entendimento do conceito de autor passa a figurar no campo da linguagem que será entendida como o espaço da manifestação de um sujeito, não mais o ser completo e uníssono, mas o ser incompleto e múltiplo, composto de outros e de diferentes vozes. Esse não-sujeito, desprovido de domínio sobre seus pensamentos e sentimentos, não representa mais uma entidade autoral, e sua produção convive com a incerteza de sua origem. Dessa forma o autor passa ser aquele que se constrói a partir da linguagem, que possui uma presença ausente, que divide com o leitor o papel de se inscrever em um mundo desconhecido, inconcluso e incompreensível em sua totalidade. Contemporaneamente o autor renasce como função narrativa, seja quando o seu papel de criador se transforma em leitor; seja como tema ou personagem de muitas narrações através dos formatos metaficcionais. A presença de personagens autores demonstra a ficcionalização da figura autoral e configura uma forma de revisitação e de reescrita da tradição. A representação literária do escritor se observa com a crescente presença de personagens escritores nas narrativas ou a abordagem do universo literário como tema. Em obras que possuem a proposta metaficcional, um dos recursos empregados é a criação de personagens que possuem identidade de autores conhecidos a fim de tematizar o fazer literário e, em muitos casos, promover o diálogo com a tradição. O autor quando personagem ou tema de ficção colabora para a manutenção do mito reafirmando sua constituição simbólica, não pretendendo trazer para o texto a matéria viva, mas sim, representá-lo. A presença de autores conhecidos como personagem de romances pode também funcionar como uma forma de acionar as redes textuais, criando associações textuais. Esse processo se observa na presença de Jorge Luís Borges na obra de Luís Fernando Veríssimo. O presente trabalho pretende mostrar esse fenômeno no romance Borges e os orangotangos eternos (2000) de Luís Fernando Veríssimo, que através da construção narrativa dialógica (Bakhtin) e da inclusão de Borges como personagem, incorpora a dimensão metaficcional e o diálogo entre autores de espaços e tempos diferentes quando, na atmosfera do romance policial, cria leitores detetives e autores assassinos.
Palavras-chave: AUTOR, LEITOR, METAFICÇÃO, AUTOR PERSONAGEM
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