Esta comunicação pretende contribuir com a discussão proposta pelos coordenadores do simpósio, a partir de reflexão sobre exemplos de escritura bilíngue na literatura latino-americana contemporânea, com a de Fabián Severo e Wilson Bueno, que permitem pensar escritas que se fazem nas fronteiras, que não as cruzam ou traduzem, mas que as expõem em sua hibridez constitutiva. Nem a língua de cá nem a língua de lá, uma língua outra, fora da circunscrição geopolítica nacional; línguas literárias, linguagens artísticas que expressam a precariedade das fronteiras enquanto marcos que cindem diferenças e determinam que de ambos os lados há homogeneidade, enquanto no trânsito de um a outro há o abismo da diferença. A fronteira se faz, ao contrário, fluida, dispersa, há heterogeneidade dentro e fora; não há dentro ou fora, há amálgamas diversos. Por outro lado, pensar a diluição de fronteiras entre países latino-americanos e explorar os contatos e hibridismos interamericanos se pode pensar não somente como utopia de integração, cujas ressonâncias parecem vir de certo idealismo modernista, mas como potencial força de desintegração da noção mesmo de fronteira geopolítica como paradigma de configuração de “sistemas literários”, ou seja, como definidores dos adjetivos gentílicos que circunscrevem as literaturas: literatura brasileira, argentina, peruana etc. Nesse sentido, a concepção de um comparatismo literário interamericano não volta a circunscrever os limites, ampliando-os do nacional ao continental? Inclui-se no comparatismo interamericano a América Central e do Norte ou somente a América Latina? O quanto conseguimos evitar a ampliação do comparatismo com a literatura e as artes oriundas da Europa, África ou qualquer outra geografia? A transnacionalidade não deve ser pensada em escala mundial e não apenas continental? Além disso, a interliterariedade não se enriquece também com o interartístico, ou seja, com as ampliações do comparatismo entre as artes? Nesse sentido, gostaria de contribuir com alguma reflexão sobre a diluição das fronteiras também entre a literatura e as artes visuais, sonoras e do espaçamento (como a pintura, o cinema, a música, a dança e demais). Essas são algumas questões instigadas pela leitura da ementa do simpósio e que acredito profícuas para um debate continuado.
Palavras-chave: LITERATURA, ARTES COMPARADAS, ESCRITURAS BILÍNGUES, DESTERRITORIALIZAÇÃO