Esta comunicação tem por objetivo avaliar a obra literária do escritor gaúcho Moacyr Scliar, sobretudo naquela que é, certamente, uma de suas facetas temáticas mais significativas de sua produção: a ficionalização do texto bíblico. Com efeito, o texto canônico sagrado irá permear seus trabalhos, protagonizando narrativas curtas, ensaios, crônicas e, significativamente, romances e novelas. Será demonstrado como a Bíblia ocuparia nessas narrativas um espaço privilegiado, inicialmente como “inspiração metafórica da realidade brasileira”, mas também será campo para um mergulho crítico no acesso à essa memória cultural, alegoria sobre a condição do homem contemporâneo e chave para a reflexão acerca do trabalho do escritor e da importância da escrita e do texto. Três romances, recriações de passagens bíblicas, publicados ao longo dos últimos anos da carreira do escritor gaúcho, são os objetos desta reflexão: A mulher que escreveu a Bíblia, publicado em 1999; Os vendilhões do templo, publicado em 2006; e Manual da paixão solitária, publicado em 2008. Nesses textos o extrato bíblico se transmutaria para além da citação ou alegoria, mas se perfaz como o próprio motivo do enredo como reescrita, como recriação, caminhando da periferia do espaço diegético para o centro configurando essa textualidade que podemos chamar de romance bíblico contemporâneo.