Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
"OS JUDEUS E AS PALAVRAS", UM DUETO
SAUL KIRSCHBAUM
"Os judeus e as palavras", obra a quatro mãos do celebrado romancista israelense Amós Oz e sua filha, a historiadora Fania Oz-Salzberger, publicada em 2012 nos Estados Unidos como Jews and Words, e lançada no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras, em tradução de George Schlesinger, apresenta algumas características únicas, diferenciais, que chamam a atenção do leitor: a) não obstante o escritor ser um dos mais prolíficos autor de livros em hebraico, este livro foi escrito originalmente em inglês; b) à parte de sua ampla obra ficcional, Amós Oz já publicou cinco livros de ensaios – bem como inúmeros artigos isolados –, normalmente versando sobre a questão palestina, sobre as dificuldades de relacionamento entre judeus e árabes, os obstáculos à construção da paz, sobre os problemas entre diferentes grupos de judeus em Israel; este livro, que os autores denominam de “ensaio”, talvez seja melhor referido como obra de divulgação; c) se, de um lado, Amós já publicara cerca de trinta livros, Fania contava anteriormente com apenas duas obras autorais (desconsiderados os livros de que participou como organizadora) – Translating the Enlightenment, 1995, e Israelis in Berlin, 2001; d) por fim, como os próprios autores salientam, a experiência de co-autoria propiciou um relacionamento complexo, no qual se notam “resíduos de um diálogo”, mas também “conflito intergeracional, diferentes perspectivas de gênero, ou escaramuças sutis de ficção e não ficção”. O objetivo da comunicação é refletir sobre Os judeus e as palavras enfatizando as questões suscitadas pela co-autoria, que pode ser vista, em termos musicais, como um dueto, duas vozes que em geral soam em uníssono, bem harmonizadas, mas que às vezes se dissociam e em outras ocasiões convergem. Essas dissociações ou desafinações transparecem em trechos como “A web, como a historiadora entre nós insiste em tentar persuadir o romancista entre nós, ...” (p. 13), ou “Durante muito tempo, a historiadora entre nós pensou que o romancista entre nós tinha inventado o truque de mudança de texto, este minúsculo yod subversivo”. (p. 73). Nesta abordagem musical, pode-se pensar que os autores descrevem o povo judeu como uma espécie de orquestra, com diferentes vozes, diferentes timbres, diferentes afinações, e que não conta com um maestro. Também merecerá nossa atenção o peso relativo da contribuição de cada um dos co-autores: levando adiante a metáfora musical, a complexidade da partitura de cada uma das vozes e a eventualidade de uma voz abafar a outra. Na simultaneidade de diversos pares, pai-e-filha, escritor-e-historiadora, e também, por que não?, homem-e-mulher, que importância cada uma dessas relações adquire face às outras.
Palavras-chave: AMÓS OZ, FANIA OZ-SALZBERGER, POVO JUDEU, JUDAÍSMO
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