Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
UMA ESTRANGEIRA DO MUNDO –MEMÓRIAS DE CLARICE LISPECTOR NA ITÁLIA
MONA LISA BEZERRA TEIXEIRA
De agosto de 1944 a abril de 1946, Clarice Lispector mora em Nápoles, Itália. Essa mudança do Rio de Janeiro para a Europa ocorreu para acompanhar o marido, Maury Gurgel Valente, que assumiria a posição de vice-cônsul do Brasil em suas atividades diplomáticas iniciais. Será nessa cidade que irá começar um período de dezesseis anos vivendo fora do Brasil, passando pela Suíça, Inglaterra e Estados Unidos, situação com a qual a escritora nunca se acostumou. Chegam em plena segunda guerra mundial juntamente com as tropas brasileiras, com mais de vinte e cinco mil homens integrando-se ao exército norte-americano, que já ocupava a cidade no combate às forças do Eixo. Com pouco tempo de sua chegada, Clarice recebe em outubro a notícia de que seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, tinha ganhado o prêmio Graça Aranha, um dos mais importantes do Brasil na época. Essa estadia napolitana terá implicações importantes para Clarice Lispector, que inclusive trabalha em um hospital americano cuidando dos soldados feridos nos combates e mantém contato com os amigos e correspondentes de guerra, Rubem Braga e Joel Silveira, importantes testemunhas desse conflito através de relatos e crônicas sobre a presença brasileira na Itália. Conhece figuras muito importantes do meio intelectual e artístico italiano, como Giuseppe Ungaretti, que iria traduzir trechos de Perto do coração selvagem, e o pintor De Chirico, que fez um de seus retratos mais conhecidos e admirados. Também visita cidades que a impressionam de maneira significativa, como Roma, Pistoia e Florença. Suas vivências pessoais nesse período se transformariam, mais adiante, em mananciais para seus escritos, como é possível perceber nas suas trocas de correspondências com as irmãs Tania Kaufmann e Elisa Lispector, e os amigos Lúcio Cardoso, Manuel Bandeira e Francisco de Assis Barbosa, para citar alguns, em que muitas vezes fala sobre os problemas com relação à adaptação de suas funções como esposa de diplomata, suas dificuldades com relação à elaboração de seus escritos e sobre os escritores que lê, como Marcel Proust, Emily Brontë e Katherine Mansfield. A presença de aspectos biográficos pode ser observada com relação à história do cachorro Dilermando, citado em sua obra infantil A mulher que matou os peixes, e transfigurada na história “O crime do professor de matemática”, presente no livro de contos Laços de família, e na crônica “Bichos”, que integra o volume de A descoberta do mundo, para citarmos alguns exemplos. Também será em Nápoles que, recolhida em seu intimismo, irá encerrar a escrita de seu segundo romance, O Lustre.
Palavras-chave: CLARICE LISPECTOR, LITERATURA BRASILEIRA MODERNA, ITÁLIA, 2A. GUERRA MUNDIAL
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