Na conferência “Literatura de vanguarda no Brasil”, um dos poucos ensaios críticos de Clarice Lispector, a escritora destaca que, além do caráter experimental, o movimento de 1922 foi um movimento de posse: movimento de tomada de nosso modo de ser, o mais urgente naquela época. Portanto, significou, para nós, vanguarda, independente de qualquer valor universal. Nesse sentido, Clarice Lispector considera que o movimento modernista de 1922 assume um caráter peculiar, de “libertação”, uma vez que motivou “pensar” a língua portuguesa do Brasil, sociológica, psicológica, filosófica e lingüisticamente, sobre nós mesmos. No presente trabalho, propomos uma reflexão acerca desse “movimento de libertação”, sob uma perspectiva alegórica benjaminiana, a partir do ensaio Totens e tabus na modernidade brasileira, da pesquisadora Lúcia Helena, a qual considera que as metáforas do pau-brasil e da antropofagia são alegorias de uma relação histórica entre um passado remoto, em ruínas (o tempo pré-colonial), na medida em que se questiona parodisticamente o passado da colonização, da Primeira República; e um presente possível (a utopia de Pindorama), que o antropófago “bárbaro e nosso” quer construir, verificando-se também uma permanência entre nós, do discurso cultural, artístico, político e econômico do colonizador.
Palavras-chave: Alegoria, Antropofagia, Pau brasil, Clarice Lispector