Vinicius Schröder Senna, João Cezar de Castro Rocha
a discussão sobre o cruzamento de características ficcionais e ensaísticas numa mesma obra literária pode ser conduzida de várias formas. Proponho que pensemos na composição de Diário de um ano ruim (2007) de J. M. Coetzee como uma tentativa de explorar algo que não seja unicamente ficção ou ensaio, embora tenha a sua origem em ambos. Se for razoável pensar dessa forma, o próximo passo será a tentativa de identificar qual o rendimento dessa suposta potência discursiva. Para esse propósito, conto com os trabalhos precedentes de Kathrin Rosenfield, Cristovão Tezza, Christopher Domínguez Michael e Gunter Axt. Cabe um esclarecimento inicial acerca da minha proposta: pretendo analisar o desempenho do mencionado cruzamento mediante a aproximação gradual de cada uma das fronteiras estipuladas pelo autor. Dada a separação − até mesmo gráfica no Diário −, entre ensaio e ficção, e o progresso paralelo de ambos, ressaltarei as características marcantes de cada um e os seus encontros diretos e indiretos.