Personagem, conflito e situação crítica na perspectiva autoral

Ministrante: Luiz Antonio de Assis Brasil (PUCRS), Adauto Locatteli Taufer (UFRGS)
Carga horária: 2 aulas de 2 horas-aula cada.
Datas: dias 24 e 25 de agosto, das 14:30 às 16:30

Resumo: Os estudos literários visam, via de regra, construir teoria ou aplicá-la em textos dotados de literariedade. Nosso propósito, porém, será tratar dos aspectos teóricos anunciados no título tendo como ponto de partida a perspectiva de quem escreve. Os três conteúdos contemplam temas primordiais da narrativa de ficção, procurando descrever como ocorre o processo e, ao mesmo tempo, oferecer sugestões de como operacionalizá-los no texto narrativo. Os objetivos primordiais contemplam a instrumentalização do ficcionista a entender como se desenvolve o seu processo criativo no plano da personagem, do conflito e da situação crítica e, por outro lado, habilitar o professor a realizar a exegese do texto narrativo a partir da ótica autora; este segundo objetivo poderá ser útil em sala de aula. O curso se justifica: praticamente inexistem, em nosso País, reflexões sobre o processo interior do ficcionista no que toca à construção da personagem, do conflito e da situação crítica.

CONTEÚDO

Aula 1:
A personagem como motor da ficção
A personagem e sua questão essencial
A personagem e o conflito da história

Aula 2:
O conflito versus situação crítica
A situação crítica como desencadeador do interesse pela história
O enredo como derivado da interação da questão essencial da personagem com a situação crítica.

Bibliografia principal:

ASSIS BRASIL, Luiz Antonio de. Escrever ficção [colaborador: Luís Roberto Amabile]. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e castigo. [Várias edições e traduções]

FLAUBERT, Gustave. Mme. Bovary. [Várias edições e traduções]

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela [Várias edições]

SHAKESPEARE, William. Hamlet. [Várias edições e traduções]

Minibio: Luiz Antonio de Assis Brasil - ficcionista e professor, com 21 romances publicados. Doutor em Linguística e Letras. É publicado no Brasil, Portugal, Espanha, Alemanha, Japão e França. Ministrante há 36 da Oficina de Criação Literária da PUC-RS, a mais antiga em funcionamento ininterrupto no ambiente acadêmico no Brasil, e que deu origem à Área de Escrita Criativa do PPGL da PUC-RS. Professor dos cursos de Mestrado e Doutorado em Escrita Criativa da mesma universidade. Distinguish Brazilian Writer in Residence na Berkeley University, Catedrático Convidado na Brown University e na Universidade dos Açores. Autor de Escrever ficção: um manual de Criação Literária - ora em terceira tiragem - colaboração de Luís Roberto Amabile [Cia das Letras, 2019]. Prêmios: Prêmio Literário Nacional [Instituto Nacional do Livro] Jabuti, Portugal Telecom [hoje Oceanos], Prêmio Machado de Assis.

 

 

Escritoras russas e soviéticas

Ministrantes: Cecília Rosas e Giuliana Almeida
Carga horária: 4 horas e 30 minutos
Datas: 23, 25 e 27 de agosto, das 16h às 17h30m

Resumo do minicurso: A literatura russa está repleta de personagens femininas inesquecíveis como, por exemplo, Anna Kariênina ou Nastássia Filíppovna, fruto da pena de escritores homens. Quando Tolstói e Dostoiévski publicaram as suas obras, poucas eram as mulheres que conseguiam escrever e oferecer ao público os seus escritos. Entretanto, desde a segunda metade do século XVIII as mulheres ocupam e esfera pública da escrita antes reservada apenas aos homens, e é interessante atentar para o fato de que no nosso tempo, graças a nomes como Svetlana Aleksiévitch e Liudmila Petruchévskaia, elas se tornaram o carro chefe dos lançamentos da literatura russa contemporânea no Brasil.

O objetivo deste curso é apresentar um panorama histórico da presença das mulheres na literatura russa desde meados do século XVIII, apontando as conexões entre o contexto histórico e o florescimento da literatura escrita por elas. Assim, discutiremos, entre outros, o movimento pela emancipação feminina que surge na segunda metade do século XIX e que, impulsionado pelo Populismo russo, resultou num aumento expressivo da ficção escrita por mulheres; a contradição que a revolução de 1917 representou para a literatura feita por elas e o total engessamento ao qual essas mulheres foram submetidas durante o stalinismo, quando Stálin decretou que a questão feminina já estava resolvida; o papel significativo das mulheres na desestalinização da literatura após 1953 e, por fim, a literatura russa contemporânea, capitaneada por escritoras reconhecidas internacionalmente como a laureada pelo Nobel Svetlana Aleksiévitch.

Minibiografia das ministrantes:

Cecília Rosas é tradutora, editora e professora, com mestrado e doutorado em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo. Trabalhou como editora assistente na Editora 34. Atualmente se dedica à tradução literária e leciona cursos livres sobre literatura russa. Fez parte da revista Geni e hoje integra o Coletivo Sycorax, que traduz e debate autoras feministas. Como integrante do coletivo, participou da tradução de Calibã e a bruxa e O ponto zero da revolução, de Silvia Federici (Elefante, 2017 e 2019).

Tem traduções publicadas de, entre outros autores, Aleksandr Púchkin, Fiódor Dostoiévski e Varlam Chalámov. Entre suas traduções mais recentes estão Viagem sentimental, de Viktor Chklóvski (Editora 34, 2018); A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch (Companhia das Letras, 2016); Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha, menção honrosa no Prêmio Boris Schnaiderman da ABRALIC em 2019, e A menininha do Hotel Metropol, ambos de Liudmila Petruchévskaia (Companhia das Letras, 2018 e 2020).

 

 

 

Giuliana Teixeira de Almeida é bacharel em História (USP). Doutora e mestre em Literatura e Cultura Russa pela FFLCH/USP, autora da dissertação de mestrado "Pelo prisma biográfico: Joseph Frank e Dostoiévski" e da tese de doutoramento "A Rússia na encruzilhada autobiográfica: Passado e Pensamentos de Aleksandr Herzen". Foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) durante o mestrado e o doutorado sob a orientação do Prof. Dr. Bruno Gomide. Realizou estágio de pesquisa na Universidade de Berkeley, Califórnia, durante o mestrado e estágio doutoral na Universidade Queen Mary de Londres. Atualmente é pesquisadora e sua pesquisa concentra-se na história cultural russa oitocentista, nas escritas (auto)biográficas e nos pontos de contato entre História e Literatura. Já ministrou cursos livres em diversos espaços culturais, como SESC-SP e Tapera Taperá. É autora do livro Pelo Prisma Biográfico, Joseph Frank e Dostoiévski (Editora Desconcertos) e de diversos artigos científicos sobre literatura russa, escrita (auto)biográfica e história da Rússia.

Autoria feminina e ditadura: vozes da resistência

Ministrantes: Gínia Maria de Oliveira Gomes (UFRGS); Cristiane da Silva Alves (UFRGS)
Carga horária: 6h/a
Datas: 23/08 e 24/08, das 14h às 17h.

Resumo do minicurso: Até bem pouco tempo, foi tímida a presença das mulheres como autoras das histórias relacionadas à ditadura e, da mesma forma, praticamente inexistentes as produções que lhes concederam protagonismo, cuidando de destacar a sua participação como sujeitos atuantes, participantes diretas da luta e não apenas como companheiras das personagens masculinas, postas à margem dos enfrentamentos histórico-políticos. O quadro, todavia, vem se alterando nas últimas décadas. Memórias e vozes femininas têm sido empregadas com empenho e coragem na reconstrução da história, seja buscando formas de libertá-la do apagamento, seja revisitando-a e oferecendo novas perspectivas a respeito dos acontecimentos. Nesse sentido, a produção literária de autoria feminina tem sido crescente e, até certo ponto, ousada, desafiando não apenas a hegemonia masculina e o cânone, como também, o autoritarismo e a "amnésia nacional" que insistem em se manter. Levando-se em conta essas e outras questões, o curso pretende apresentar algumas faces da ditadura presentes em narrativas de autoria feminina produzidas no século XXI, enfatizando as diferentes formas de resistência que essas obras desvelam. Para apoiar as análises, recorre-se às contribuições de Eurídice Figueiredo (2017), Maria Rita Kehl (2010), Jaime Ginzburg (2010), e Jeanne Marie Gagnebin (2006), entre outras.

Referências:

FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura militar brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006.

GINZBURG, Jaime. Escritas da tortura. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 133-149.

KEHL, Maria Rita. Tortura e sintoma social. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 123-132.

Minibiografia das ministrantes:

Gínia Maria Gomes é professora Titular de Literatura Brasileira no Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Realizou doutorado em Letras pelo PPG-Letras da UFRGS e estágio pós-doutoral pela Paris III – Sorbonne Nouvelle (2009 e 2019-2020). Organizou os seguintes livros: Vozes da resistência: ecos ditatoriais na literatura brasileira do século XXI (2021), Narrativas brasileiras contemporâneas: memórias da repressão (2020), Mobilidade e resistência na Literatura Brasileira Contemporânea (2020), Alteridades em trânsito: estética e representação na narrativa brasileira do século XXI (2018), Migração e exílio: trânsitos no romance brasileiro contemporâneo (2016), (Des)contextos da narrativa brasileira contemporânea (2017), Século XXI: perspectivas para a Literatura Brasileira (2015), Literatura Brasileira Contemporânea: geografias (2013), Narrativas contemporâneas: recortes críticos de Literatura Brasileira (2012) e Euclides da Cunha: Literatura e história (2005). Também é autora de capítulos em diversas coletâneas: Ficção e travessia: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (2019), Literatura brasileira & contemporaneidade: uma perspectiva transnacional (2019), João Guimarães Rosa: um exilado del linguaje común (2017), Ficção brasileira no século XXI: história, memória e identidade (2016), Momentos da ficção contemporânea (2016), Relectura de Lygia Fagundes Telles (2014), Poéticas do espaço, geografias simbólicas (2013), Escritas do eu: introspecção, memória, ficção (2013), Fêtes de la cour dans le Royame et dans l’Émpire portugais (2013). Atualmente, desenvolve o projeto de pesquisa “Os percalços da memória: migração e exílio no romance do século XXI”. 

 

Cristiane da Silva Alves é Licenciada, Mestre e Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também é graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). É autora de capítulos publicados nos livros Vozes da resistência: ecos ditatoriais na literatura brasileira do século XXI (2021), Mobilidade e resistência na literatura brasileira contemporânea (2020), Narrativas brasileiras contemporâneas: memórias da repressão (2020), Poéticas e internacionalização (2020), Ilhas literárias: estudos de transárea (2018), (Des)Contextos da Narrativa Brasileira Contemporânea (2017), Século XXI: perspectivas para a literatura brasileira (2015), A Música das Esferas: Conexões entre Literatura, Mitologia e Imaginário (2014) e Machado de Assis & Guimarães Rosa – Da criação artística à interpretação literária (2008). Atualmente, é bolsista de Pós-Doutorado (PNPD-CAPES/MEC) junto ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o projeto de pesquisa “Mulheres velhas: seus lugares e papéis na literatura brasileira do início do século XXI”. 

 

 

Desencializar la heteronorma y el canon artístico en dos artistas trans chilenas: El caso de las obras poéticas y visuales de Mara Rita y Lorenza Böttner

Ministrantes: Jorge Cid e Nataly Lemus - UNIVERSIDADE ADOLFO IBÁÑEZ, SANTIAGO, CHILE
Carga horária: 3h/a
Datas: 31 de agosto, às 16h

Resumo do minicurso: La investigación que da origen al presente mini curso tiene como objeto de estudio las obras poéticas y visuales de dos artistas transgénero chilenas: Mara Rita Villarroel, poeta; y Lorenza Böttner, artista visual y perfomer. La investigación se basa en el análisis comparativo de las consonancias temáticas y estéticas establecidas entre las acciones de arte que cada una expone y su vínculo estrecho con la producción artística y la voz discursiva disidente a partir de la experiencia de transición vivida por las artistas. Tal experiencia da cuenta de cómo es vivir fuera de la norma de los roles sexo genéricos definidos por una sociedad hegemónica, en la que se privilegia la normatividad por sobre la identidad de género. Nuestro análisis se desarrolla desde una óptica teórica que considera, entre otros, a Paul Preciado, Judith Butler, Robert McRuer y Josefina Alcázar.

Este mini-curso ha sido desarrollado en el marco del proyecto ANID/CONICYT FONDECYT Iniciación n°11180374 titulado "Crear/se y publicar/se en la periferia: un estudio comparado de colectivos poético-culturales actuales de Brasil, Argentina y Chile" del que el Dr. Jorge Cid es investigador responsable y Nataly Lemus tesista.

Minibiografia dos ministrantes:

Jorge Cid es poeta y Docteur en Langue et Littérature Romane por la Université de Poitiers.

Ha editado el libro Una lengua en trance: Carmen Berenguer y Reynaldo Jiménez, poetas que nos interpelan (Cuarto propio, 2019) y coeditado Contrarreforma católica, implicancias sociales y culturales: miradas interdisciplinarias (Cuarto propio, 2019). El presente año Ril Editores publica el libro "Derivas y tránsitos del neobarroco: Néstor Perlongher como morada de lenguas evanescentes".

Sus investigaciones se centran en la poesía latinoamericana del siglo XX y actual. Ha dirigido dos proyectos de investigación Fondecyt: "Crear/se y publicar/se en la periferia: un estudio comparado de colectivos poético-culturales actuales de Brasil, Argentina y Chile" (2019-2021), en el marco del que fue desarrollado este libro, y "Poéticas de la incertidumbre neobarroca: un estudio comparado de tres escritores chilenos y tres latinoamericanos" (2016-2018).

Sus artículos han sido publicados en revistas chilenas y extranjeras como Nomadías, Caracol, Revista Iberoamericana, Acta Literaria, Escritural, Éducation Comparée y en libros editados en Francia y España como Variaciones sobre el melodrama; El cuerpo del significante. La literatura contemporánea desde las teorías corporales; Raúl Zurita. Obra poética (1979-1994), volumen de la Colección "Archivos"; y La escritura de Armonía Somers. Pulsión y riesgo.

Ha trabajado como profesor en la Université de Poitiers y como profesor investigador en la Université de Bordeaux entre 2008 y 2012. Actualmente es profesor del Departamento de Literatura y miembro del Grupo de Estudios Lenguajes y Materialidades de la Universidad Adolfo Ibáñez, y pertenece también al Centre de Recherches Latino-Américaines - Archivos (CNRS / Université de Poitiers).

Como poeta ha publicado Labia Larvaria (Ediciones Universidad de Concepción, Colección "Cuadernos Atenea", 2009) y Éxodos (Editorial Cástor y Pólux, 2019). Su poesía ha sido distinguida con diversos galardones, entre los que destacan el premio Juegos Florales Gabriela Mistral (2005) y la Beca de Creación Literaria del Consejo Nacional del Libro y la Lectura (2006). Fue becario de la Fundación Neruda durante el año 2015.

 

Nataly Lemus es Magíster © en Literatura Comparada por la Universidad Adolfo Ibáñez.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Literatura, leitura e criatividade

Ministrante: Patricia Trindade Nakagome - UnB
Carga horária: 4h/a
Datas: 27/08 Horário: 9h - 13h

Resumo do minicurso: Literatura, leitura e criatividade. O título do curso foi intencionalmente pensado sem uma articulação mais precisa entre seus três elementos. Apenas unimos os termos que serão questionados e apreciados em nosso curso, deixando propositalmente a leitura em posição central.

Sendo tão habitual a nós, mal percebemos como compreendemos, analisamos e julgamos uma obra. Lemos apenas. Em nossa proposta, buscamos distinguir processos que caracterizam a leitura, ora mais enfocada na obra literária, ora mais afastada dela. Após tal compreensão, destacaremos maneiras mais "criativas" de leitura, que realizamos sem mesmo notar e que poderiam ocupar maior destaque na sala de aula.

No curso, pensaremos a criatividade como forma da leitura literária e também como seu resultado. Para tanto, consideramos fundamental, antes de tudo, questionar se a criatividade é uma característica estimulada tanto em nossa formação quanto em nossa atuação. Isso implica, a nosso ver, numa urgente discussão sobre o papel do mestre (em diálogo com Rancière, 2015) e o sentido do ensino de literatura (em diálogo com Todorov, 2009). Assim, enfrentamos algumas questões de fundo: somos suficientemente criativos enquanto pesquisadores, professores e leitores para que possamos almejar uma relação com o texto mais criativa e criadora? Podemos e/ou desejamos ser criativos em nossa área? Lidaremos com essas e outras indagações para sinalizar alguns caminhos tanto para o ensino de literatura quanto para a leitura crítica.

Bibliografia:

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.

Minibigrafia do autor: Professora Adjunta de Teoria Literária na Universidade de Brasília, atua como orientadora de mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação em Literatura. É mestre e doutora pela Universidade de São Paulo e realizou Pós-doutorado na UFSCar. É uma das líderes do Grupo Leitores e Leituras na Contemporaneidade e integrante do Grupo de Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea. Foi editora da Revista Cerrados e editora-científica da Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, encerrada recentemente por falta de financiamento. Na UnB, coordena as atividades do grupo Sentidos da Leitura, formado por estudantes de graduação e pós-graduação, que se reúnem para o debate de textos teóricos e literários e também para a atuação em atividades de extensão, como o recente curso "Literatura para criatividade e intervenção" destinado a professores/as da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Suas pesquisas estão voltadas principalmente para a leitura literária e a formação de leitores, com especial atenção à dimensão ética, política e afetiva de ambas.

 

 

 

 

 

Formas de comparatismo na recepção moderna de Homero

Ministrante: Christian Werner (USP)
Carga horária: 6h/a
Datas: 23, 24, 25 e 26 de agosto, das 8h às 9:30.

Resumo do minicurso: O objetivo principal deste curso é a discussão de práticas de comparatismo por meio de quatro exemplos da recepção moderna das epopeias de Homero: Laocoonte, de G. E. Lessing; a chamada "teoria oral", desenvolvida por M. Parry e A. B. Lord; "A cicatriz de Ulisses", de E. Auerbach; e Primeiras estórias, de J. G. Rosa.

Com efeito, Singer of tales, de A. B. Lord (a tradução da monografia está no prelo pela Editora UFPR), e Mimesis, de E. Auerbach, tornaram-se dois clássicos das primeiras décadas de desenvolvimento dos estudos de comparação no século XX. Já em Laocoonte, uma proposta de contrapor poesia e pintura, Lessing faz uso de Homero e de sua recepção antiga para construir argumentos que têm dialogado de forma frutífera com desenvolvimentos recentes da teoria literária cognitiva. Por fim, "Famigerado" e "Fatalidade", dois contos de Primeiras Estórias, adaptam episódios emblemáticos dos dois poemas homéricos, respectivamente, o cegamento de Polifemo na Odisseia e o duelo entre Aquiles e Heitor na Ilíada. Todos esses textos, embora sejam significativos, de formas diversas, como propostas de reflexão sobre a épica homérica, são antes de tudo tentativas historicamente condicionadas de seus autores falarem do presente de seus receptores e a eles por meio do engajamento crítico e criativo com um texto antigo.

No caso do Laocoonte, pretende-se focar nas consequências da oposição entre narrativa e descrição e em como as conclusões de Lessing, por intermédio da noção antiga da enargeia ("vivacidade pictórica"), dialogam com a aplicação da teoria enativa da cognição nos estudos literários. A chamada "teoria oral" de Parry-Lord será abordada por meio da metodologia comparativa proposta pelos dois pesquisadores e de suas ligações com o debate acerca da relação entre tradição e recepção. Quanto ao influente capítulo de Auerbach, sua contextualização histórica no desenvolvimento da ideologia nazista e a proposta de contraste entre Homero e o Velho Testamento serão as balizas principais para se revisitar as conclusões de que o estilo homérico se restringe ao primeiro plano, no limite, funcionando como um narcótico. Por fim, a partir dos usos das tradições clássicas em Primeiras estórias e da recepção da matriz épica em Grande sertão: veredas, vai-se indagar por que e como "Fatalidade" e "Famigerado" remetem a Homero.

Bibliografia:

AUERBACH, E. Mimesis. A representação da realidade na literatura ocidental. Edição revista e aumentada. São Paulo: Perspectiva, 2021.[um arquivo com textos introdutórios; no outro, 'Cicatriz'+'Epilegômenos']

HOMERO. Ilíada. Tradução e introdução: C. Werner. São Paulo: SESI-SP / Ubu, 2018. ["Escudo de Aquiles"]

―. Odisseia. Tradução e introdução: C. Werner. Apresentação: R. Martin. São Paulo: Ubu, 2018.[Episódio da cicatriz de Odisseu]

GUINSBURG, J.; KOUDELA, I. D. Lessing: obras (crítica e criação). São Paulo: Perspectiva, 2016. [textos introdutórios+Laoc.:prefácio e capítulos 1+14-19+notas]

ROSA, J. G. Primeiras estórias. 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio. ["Famigerado"; "Fatalidade"]

Minibigrafia do autor:

Christian Werner é professor de Língua e Literatura Grega na Universidade de São Paulo desde 2002. Autor da monografia Memórias da Guerra de Troia: a performance do passado épico na "Odisseia" de Homero (Coimbra/São Paulo, 2018) e de traduções da Odisseia (São Paulo, 2014; 2a ed. 2018) e da Ilíada (São Paulo, 2018), bem como dos dois principais poemas atribuídos a Hesíodo, a Teogonia (São Paulo, 2013) e Trabalhos e dias (São Paulo, 2013). Defendeu sua tese de livre-docência sobre a tradição épica arcaica grega em 2012 e desde esse ano é bolsista de produtividade do CNPq. É líder do grupo de pesquisa "Gêneros poéticos na Grécia antiga: tradição e contexto" (CNPq/USP) e pesquisador dos grupos "Estudos sobre o Teatro Antigo" (CNPq/USP) e "Democracia: discursos gregos, desafios atuais" (CNPq/USP). Licenciado em Letras (Português e Grego) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), é mestre e doutor em Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo (respectivamente, 1999 e 2004). Realizou estágio de pós-doutorado na Freie Universität Berlin (2009-10 e 2020-21) e na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg (2014). Tem publicado e orientado trabalhos sobre a literatura grega arcaica e clássica (sobretudo Homero, Hesíodo, Píndaro e Eurípides) e a recepção antiga e moderna de Homero, sobretudo em Guimarães Rosa.