ORIENTAÇÃO: Profa. Dra. Rejane Pivetta de Oliveira

RESUMO: As vozes LGBTQIA+ na produção literária brasileira, em especial aquelas de autoria não branca, foram historicamente relegadas às margens do cânone, e, por consequência, também o foram as narrativas que contam a história da comunidade. João Paulo Querino da Silva (ou Juão Nyn, conforme assina na capa), autor Potyguara, reivindica esse espaço na obra Tybyra: uma tragédia indígena brasileira (2020), em que conta a história de Tybyra, indígena Tubinambá condenado à morte pelo crime de sodomia em São Luís do Maranhão de 1614, desde os momentos anteriores à sua prisão até a consumação de sua sentença. A partir disso, o presente trabalho busca analisar a obra sob a ótica da Antropofagia, conforme estabelecida por Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropófago (1928) e revisitada por Azevedo (2018), no minucioso estudo Antropofagia – Palimpsesto Selvagem. Nesse sentido, percebe-se Tybyra, tanto o personagem histórico quanto sua contraparte ficcional, como uma das grandes vítimas do que Oswald de Andrade (2017, p. 55) chama de “sublimações antagônicas”, “trazidas nas caravelas” pelos portugueses, que, segundo Azevedo (2018, p. 156-157), parecem estar associadas “à religião católica e aos ensinamentos catequistas pregados pelos padres jesuítas no Brasil” e que tiveram “um efeito nefasto nas populações primitivas”. Na obra, então, Tybyra assume a posição daquele que conta a própria história em vez de tê-la contada por seus opressores e, desse modo, narra as consequências que sofreu por não se adequar a uma visão de mundo que o condena, que foi trazida de fora, “nas caravelas”, e implantada à força em sua terra. Tybyra se configura, portanto, como uma obra representativa da reinterpretação da história colonial preconizada na Antropofagia de Oswald de Andrade.

PALAVRAS-CHAVE: literatura brasileira; literatura LGBTQIA+; antropofagia; autoria indígena.

REFERÊNCIAS: ANDRADE, O. Manifesto Antropófago e outros textos. Organização e coordenação editorial de Jorge Schwartz e Gênese Andrade. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2017. AZEVEDO, B. Antropofagia – Palimpsesto Selvagem. São Paulo: SESI-SP, 2018. SILVA, J. P. Q. Tybyra: uma tragédia indígena brasileira. Ilustrações de Denilson Baniwa. São Paulo: Selo doburro, 2020.