ORIENTAÇÃO: Elisana De Carli

RESUMO: O inglês William Shakespeare (1564-1616) permanece sendo um dos autores constantemente mencionados quando alusões ao teatro são feitas. Hamlet (1599-1601), é uma de suas obras afamadas, uma vez que demonstra características da transição do período Medieval para o Moderno. Justaposto a estudos sobre a morte feitos pelo historiador francês Philippe Ariès (2014; 2017) e pelas reflexões acerca da Modernidade realizadas pela psicanalista Maria Rita Kehl (2009), é feita uma análise da tragédia buscando representações da morte no texto e seu diálogo com o contexto de produção. O príncipe Hamlet é imbuído de vingar a morte do pai, contudo, questiona-se durante a tentativa de executar a ação, ao mesmo tempo em que elabora seu luto. Segundo Kehl: “É no Renascimento que encontramos, na melancolia, o protótipo de uma subjetividade que prenuncia o surgimento do sujeito moderno. Do século XV em diante, foi o campo do Outro que se desarticulou e perdeu a unidade mantida durante séculos sob a hegemonia da Igreja Católica.” (KEHL, 2009, p. 68). Os sentimentos e dúvidas do personagem são expostos por meio de seus diálogos e solilóquios, representando assim a subjetividade do indivíduo moderno. Ofélia também promove reflexões sobre a existência humana, afirmando: “[...] sabemos o que somos, mas não o que podemos ser.” (SHAKESPEARE, 2019, p. 155). A morte da personagem é comumente interpretada como suicídio - dentro e fora da trama - circunstância que supõe procedimentos fúnebres específicos. De acordo com Ariès (2014), tanto na Idade Média quanto na Idade Moderna o suicídio era visto de forma perniciosa. Os coveiros que dialogam com Hamlet afirmam que Ofélia não teria direito a um enterro nos moldes cristãos, contudo, recebe as honras fúnebres em decorrência de sua posição social de nobreza. A dramaturgia de Hamlet revela complexidade histórica, permitindo inferir que o teatro, bem como referências iconográficas, tumulares e arquitetônicos, apresenta aspectos de uma sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Shakespeare; Hamlet; Ofélia; morte; fantasmas.

REFERÊNCIAS: ARIÈS, Philippe. História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. ______. O homem diante da morte. São Paulo: Editora Unesp, 2014. KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009. SHAKESPEARE, William. A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca. Tradução de Bruna Beber. Ilustrações de Gordon Craig. São Paulo: Ubu Editora, 2019.