ORIENTAÇÃO: Michelle dos Santos

RESUMO: Este trabalho propõe-se a investigar as interferências da memória do escritor colombiano Gabriel García Márquez na narrativa de Cem anos de solidão (1967), reconhecendo a inter-relação entre as memórias de infância de García Márquez e os personagens que compõem a árvore genealógica dos Buendía. No livro Cheiro de Goiaba (1993), que registra entrevistas de García Márquez concedidas a Plinio Apuleyo Mendoza, ao se referir a Cem anos de solidão, o autor afirma: “só quis deixar um testemunho poético do mundo da minha infância” (MÁRQUEZ, 1993, p. 107). Para ele, portanto, a obra não se trata de uma alegoria da história da humanidade como é defendido por alguns críticos, mas das suas experiências na casa dos seus avós. Posto isso, busca-se mostrar a relação entre as memórias pessoais de García Márquez e a narrativa da família Buendía, como o autor, através do discurso fantástico, ficcionaliza suas memórias de infância em razão de acontecimentos possivelmente fantásticos serem naturalizados pelo narrador e compor espontaneamente a realidade. Para isso utilizou-se as discussões feitas por David Roas, em Ameaça do Fantástico (2014), Irlemar Chiampi, em O realismo maravilhoso (2015) e Alejo Carpentier, em A literatura do Maravilhoso (1987). Outra questão investigada é a relação entre a memória do sobrenome da estirpe Buendía e a identidade dos seus integrantes, partindo-se da relação entre memória e identidade estabelecida pelo antropólogo Joël Candau em Memória e Identidade (2011). Segundo Candau (1970 ,p.70), existe uma relação entre a memória de um sobrenome e o tempo. Para o autor, essa memória permite a conservação de uma identidade atribuída no tempo– sua estirpe é uma identidade, ela se repete entre antepassados e descendentes: em meio a nomes iguais, os homens dessa família sempre são os mesmos. Desse modo, esse trabalho busca entender como García Márquez criou uma narrativa ficcional com interferências da sua memória familiar.

PALAVRAS-CHAVE: Palavras -chave: memória, identidade, realismo maravilhoso

REFERÊNCIAS: CANDAU, Joël. Memória e identidade. Tradução Maria Letícia Ferreira. São Paulo: Contexto, 2011 CARPENTIER, Alejo. A literatura do maravilhoso. Tradução Rubia Prates Goldoni e Sérgio Molina. São Paulo: Vértice, 1987. CHIAMPI, Irlemar. O realismo maravilhoso: forma e ideologia no romance hispano-americano. São Paulo: Perspectiva, 2015. MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem anos de solidão. Tradução Eliane Zagury. Rio de Janeiro: Record, 1967. MÁRQUEZ, Gabriel García. Cheiro de goiaba: conversas com Plinio Apuleyo Mendonza. Tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro: Record, 1982. ROAS, David. A ameaça do fantástico. Aproximações teóricas. Tradução de Julián Fuks. São Paulo: Unesp, 2014.