A paisagem descrita pelo enunciador de uma narrativa ficcional não representa simplesmente um lugar, porque, além da contingência material de cada gênero textual, o enquadramento que se faz do espaço não é neutro ou livre de história. A paisagem é o lugar, em que o homem interage com o seu entorno, portanto a representação dela produz uma imagem, cujas hermenêuticas somente são possíveis a partir do reconhecimento das relações sociais e políticas latentes. Assim, o estudo da paisagem, representada pela literatura ou mesmo por outras linguagens artísticas, inclui, além do aspecto estético, o sociológico, histórico e político. Refletindo sobre as representações da paisagem e do sujeito na Literatura Brasileira, este estudo abordará narrativas em que a formação da imagem do sujeito é forjada a partir de flagrante embate com o outro na paisagem, instaurando um movimento complementar, mas conflituoso, entre identidade e alteridade. Serão analisadas narrativas de autores brasileiros contemporâneos, publicadas no século XXI (sem deixar de considerar a longa tradição que esse tópico tem nas montagens e desmontagens da identidade brasileira ao longo do período pós colonial) em que o enfrentamento com o outro é potencializado pelo choque entre o brasileiro e o estrangeiro. Este embate, aparece de forma flagrante, a partir de personagens que saem do Brasil para viver em outros países, em narrativas como Budapeste (2003), de Chico Buarque de Holanda, e Estive em Lisboa e lembrei de você (2009), de Luiz Ruffato.
Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea. Identidade. Alteridade.