Renato Pardal Capistrano, Ronaldo Pereira Lima Lins
O fenômeno estético, que dá vigência à literatura (e às demais artes), visa à colocação do mundo como uma tarefa da liberdade humana. Esse projeto encontra seu fim máximo na recuperação da totalidade do ser, resgatado para o homem, e na revogação da alienação da essência do mundo. No ato imaginário empreendido pela arte, é a alma humana a matéria que dá substância aos desvelamentos encaminhados pelos autores e empreendidos pelo público. A arte compromete, portanto, relações de responsabilidade, de cumplicidade cognitiva e de autoconhecimento. “Se esse mundo me é dado com suas injustiças, não é para que eu as contemple com frieza, mas para que as desvende e as crie com sua natureza de injustiças, isto é, de abusos-que-devem-ser-suprimidos”, dirá Sartre. Crítico ao modo de vida burguês, ele não deixou de ser rejeitado por cúpulas comunistas, sua obra chegando ao paradoxo de erguer-se como uma dissonância da dissonância, quando a estética oficial do realismo socialista condenou o existencialismo como um filosofia da decadência burguesa. Em sintonia com a ideia de responsabilidade sartriana, a atitude de revolta, de acordo com Camus, age em direção oposta ao absurdo primordial, age como a conquista da coletividade, pois um sujeito que se revolta, ao erguer um valor ético, descobre sua condição humana em série com outros sujeitos. Nesse sentido dirá: “Eu me revolto, logo existimos”. Partindo dos autores citados, este trabalho pretende enfocar a dinâmica das posturas da fenomenologia e do existencialismo em vista à teoria literária, tomando como corpus principal as teses apresentadas em Que é a literatura? (Sartre) e O homem revoltado (Camus).