A presente pesquisa insere-se nos estudos de intertextualidade e tem por objetivo a compreensão do procedimento narrativo da mise en abyme e da linguagem matemática em obras de Clarice Lispector (1920-1977) e Raymond Queneau (1903-1976). Escritas sob o signo da espiral, as narrativas de A quinta história e Exercises de style trazem imagens difusas, com repetições temáticas, que propiciam a especularidade dos motivos em proliferações infinitas. Nessa dinâmica, o discurso potencialmente iterativo inscreve-se em última instância numa cadeia de textos, reinventando-se, de modo a assinalar um intrigante jogo narrativo especular. A iterabilidade tem lugar privilegiado nas obras dos referidos autores, cujos procedimentos corroboram uma ficção errática, em constante tecimento. O que resta desse jogo é o próprio sujeito, com seus conflitos diante de si e do mundo. Assim, buscaremos confrontar os textos escolhidos, focalizando a mise en abyme e a linguagem matemática como forças criativas e questionadoras das obras de Lispector e Queneau.
Palavras-chave: Mise en abyme. Matemática. Clarice Lispector. Raymond Queneau.