A narrativa - se é que podemos chamá-la assim - de William S. Burroughs é comumente lida em registro distópico: sujeitos transformados em objetos diante de uma sociedade de controle, indivíduos apartados de si mesmos, um mundo, em suma, escatológico nas suas duas acepções possíveis. No entanto, parece importante considerar a remota – e por isso mesmo interessante – possibilidade de que no corpo que extravasa os seus limites, entrando em relação osmótica com o próprio entorno tecnificado, pode estar inscrito algo como uma abertura pós-humana ou transhumana; uma aliança intensiva com outras formas e corpos. O vírus, figura que povoa e contamina a escrita de Burroughs, torna-se, então, um elemento relevante a ser investigado, visto que o seu modo de existência replicante indetermina a fronteira entre vida e não-vida, entre orgânico e inorgânico, entre o si e outro - para isso, será também necessário investigar a biopolítica que se funda sobre o conceito da imunidade.
Palavras-chave: William S. Burroughs. Vírus. Pós-Humanismo. Imunidade.