O escritor contemporâneo Milan Kundera, tornou-se mundialmente conhecido a partir da segunda metade do século XX, quando então assumiu o romance moderno como espaço literário sobre o qual se dispunha a criar e apensar. Sustentando ser de dentro de sua própria história que “a arte do romance” adquire vitalidade e substancialidade, Kundera, entende ser somente no interior de sua trajetória que a narrativa romanesca encontrará condições de se transformar e de se reinventar do ponto de vista estético. Na ordem do pensar kunderianos, os romances que saltam para fora dessa história, ainda que sejam literatura, nada acrescentam à estética romanesca (1988, p. 09 a 43). Convencido da inter-relação entre o passado e o presente, situado no tempo e espaço o qual denomina de “Paradoxos Terminais da Modernidade”, Kundera quer fazer de sua produção estética um espaço também de reflexões sobre o romance moderno. As escolhas efetuadas, enquanto criador da obra literária, realizam-se em consonância com o anseio de pensar o estético romanesco no interior dele mesmo. Por entender que a figura do narrador se destaca no âmbito dessas escolhas, este trabalho tem por objetivo central procurar compreender como uma das variações do narrador kunderiano, em diálogo com o passado do romance moderno, se posiciona na narrativa de modo a trazer para o espaço do literário as problemáticas que envolvem a existência e a própria continuidade do romance nos paradoxos finais da modernidade.
Palavras-chave: Romance moderno, narrador, Don Juan, Don Quixote