Maria do Socorro Pereira de Assis, Ana Cláudia Munari Domingos
A discussão sobre um texto literário acaba chegando à intimidade da obra e, consequentemente, de seus autores, a despeito das diversas teorias que lhes acusam o desaparecimento em favor de novos entes autorais fictícios. Ou seja, chega-se sempre ao campo ético, moral, da obra de arte. Nesse sentido, somos levados de modo necessário, se quisermos criticar um texto, a desvendar os limites de uma obra, no sentido de caracterizá-la como esse ou aquele gênero, a descobrir as perguntas ou questões que ela suscita e a identificar os sentidos que ela opera sobre os sujeitos nela envolvidos. Ainda que reconheçamos que um texto fictício é um emaranhado de vidas vividas e inventadas, a outra margem do rio – a real – é sempre a busca mais constante. Para nós, a experiência estética não se extingue nela mesma, pois deve estar acompanhada pelas vivências do sujeito histórico, contextual, portanto, de todas as expectativas de passado, presente e futuro. Se as vivências dos sujeitos estão implicadas na obra de arte como síntese de suas expectativas em face do mundo, ou a partir daquilo que o conhecimento da arte fomenta, diremos, pois, que a ação prática desses sujeitos pode, pela arte, transformar-se e transformar as estruturas de suas vidas. A partir da leitura de O professor, de Cristóvão Tezza, nosso objetivo de reflexão diz respeito à literatura como mediadora e interventora na e sobre a vida dos indivíduos, verificando os recursos de que se valem e aos quais estão submetidos em suas experiências literárias transcendentes e reais e como esses processos interferem sobre as suas ações no mundo real. Como arcabouço de análise, utilizaremos a concepção de texto literário autoficcional vinculada à ideia de intervenção e ação operada pelo sujeito autor.