A pesquisa parte da análise das obras Infância (1945) e Memórias do Cárcere (1953) de Graciliano Ramos no intuito de investigar a tessitura narrativa das memórias desse autor que, ao resgatar suas vivências da meninice no sertão nordestino e experiências no período da cadeia, ganha contornos ficcionais. Procura-se investigar como o relato memorialístico é construído, quais os meios empregados numa escrita de si que é capaz de transformar as experiências vividas em matéria literária, não ficando resumidas a simples relatos autobiográficos. O livro Infância é elaborado no período pós-cárcere, momento ainda marcado pelas agruras da prisão. Veremos então que a pena do escritor não escamoteia as penas vividas no presente e estas não se diferenciam das penas do passado, se atentarmos para o universo de violência e opressão em que vivia o menino. Dessa forma, neste trabalho, procuramos rever como o menino de Infância dá a mão ao adulto das Memórias do Cárcere e vice-versa; é um jogo ambíguo e ao mesmo tempo revelador de uma escrita singular, cujo compromisso artístico e ideológico do autor se desvela na urdidura dos textos.