Tomando por base a experiência de apreensão e representação do espaço, comparo neste artigo textos de Flaubert de sua viagem para o Oriente, de 1849 a 1851, às anotações dos cadernos ilustrados da viagem de Delacroix para o Marrocos e Argélia, em 1832. A comparação tem por objetivo o estudo de características plásticas da forma descritiva que Flaubert desenvolve durante a viagem. A análise da escritura de Flaubert abrange questões de ordem estética que permeiam as artes de escrever e pintar no século XIX. Ao analisar textos do Oriente de Flaubert, Isabelle Daunais propõe que o espaço não existe para ele como realidade referencial e sim como geometria, estilização. Trata-se de um espaço delimitado em que o visível depende das condições de observação. Por volta da segunda metade do século XIX, a pintura perde a perspectiva fixa. Assim, a paisagem e os objetos deixam de se organizar em torno de um ponto fixo. As anotações de viagem de Flaubert e de Delacroix evidenciam o mesmo tipo de olhar descentralizado.
Palavras-chave: Flaubert, Gustave. Delacroix, Eugène. Anotações de viagem.