Nos anos 1970, momento mais cruel e sanguinário da ditadura militar no Brasil, o compositor capixaba Sérgio Sampaio fez de certas canções um engenhoso (e oblíquo) testemunho acerca das angústias, agruras e, por que não dizer, esperanças que permearam o debate da cultura brasileira naqueles idos. Na contramão tanto da canção engajada e assumidamente crítica do regime, como das fórmulas de cooptação maquinadas pela indústria cultural, Sampaio realiza aquilo que Jaime Ginzburg, em Crítica em tempos de violência, discute como sendo trabalho de linguagem a partir do trauma, não pela via do engagement, mas pela construção de uma obra de arte eivada pelo que Theodor Adorno, em Teoria estética, define como conteúdo de verdade. Assim, pretendemos apresentar um pequeno panorama da obra sampaiana à luz de propostas tanto da Teoria Crítica (Aufklärung, arte autêntica e estética contra a barbárie) como de propostas teóricas afins ao testemunho na produção artística. Algumas canções – como “Filme de terror” e “Labirintos negros”, ambas do disco Eu quero botar é botar meu bloco na rua, de 1973 – serão analisadas mais detidamente, considerando o contexto histórico e o conceito de testemunho.
Palavras-chave: Testemunho e Ditadura Militar. Arte e Conteúdo de Verdade. Sérgio Sampaio.