Em Contos negreiros lê-se o cotidiano brasileiro através de uma lente de aumento que potencializa as ações humanas focalizadas pelas narrativas. Essas ações são mediadas pelo racismo que se espraia pela expressão amenizada por vozes de branqueamento, lidas em furtivas formas de socialização. Contos negreiros, livro capital na obra de Marcelino freire, dá voz à experiência nada abstrata das ruas e da intimidade pública. Nesses contos, desvela-se com todo vigor e ironia a violência secreta, calada e etérea, sentida nos espaços de convivência brasileiros e, mesmo, na intimidade dos personagens. Nossa análise estuda as relações de racismo em três contos do livro. Para isto, utilizo o conceito de “branqueamento”, estudado pelo historiador Thomas Skidmore, com o intuito de mobilizar as referências estéticas de que se alimenta a obra do autor. Com isso, pode-se mostrar de que modo Freire constrói um universo bastante singular de referências passadas e, até mesmo, como denuncia, nas ações cotidianas, como o racismo percorre sutilmente nossas relações sociais.