Humberto FOIS-BRAGA, Ana Beatriz Rodrigues GONÇALVES
Entendemos a viagem enquanto uma faceta da mobilidade dos sujeitos em deslocamento físico, desdobrando-se em um processo de subjetivação da experiência que envolve um ritual de passagem no antes, durante e após este trânsito de um ponto territorial a outro (KRIPPENDORF, 2000; LEED, 2008). Por sua vez, o sujeito da viagem, o viajante, é representado, principalmente, a partir de seus motivos de deslocamento: turistas, imigrantes, refugiados e exilados são, em termos gerais, as principais categorias (ROCHE, 2003; GIDDENS, 2005). Já o conceito de estrangeiro se vincula à situação desses viajantes referenciados a partir do seu local de chegada, o que faz com o que o termo traga em si a ideia de deslocamento não somente físico, mas também social e subjetivo. Dentro dessas premissas, a comunicação proposta dividir-se-á em dois momentos. No primeiro, derivando os argumentos de Pires (2014) que nos diz ser os deslocamentos uma das “vertentes” da literatura brasileira, pretendemos compreender o significado das viagens na ficção nacional, com foco nos romances contemporâneos. Já no segundo momento, propomos uma macro-análise dos motivos de viagem nos dez romances da Coleção Amores Expressos, cujos autores passaram um mês em uma cidade no exterior para, posteriormente, escrever um história de amor que envolvessem estas urbanidades que estão para além da fronteira brasileira. Para tal discussão, partimos do pressuposto de que os enredos de amor em tais romances estão atrelados aos motivos de viagem, e estes são compreendidos a partir da dialética entre as fugas e buscas dos personagens viajantes. Derivando destas motivações, dividiremos os romances em duas categorias - as viagens circulares e as viagens de retorno suspenso -, percebendo, com isso, que a própria viagem enquanto processo positivado de transformação e aprendizado é desconstruída, sendo convertida no locus privilegiado para um anti-bildungsroman.
Palavras-chave: motivações de viagem, anti-bildungsroman, Amores Expressos.