Em sua obra Goethe, Schiller e Gonçalves Dias, o crítico teatral Ruggero Jacobbi observa que o drama Leonor de Mendonça de Gonçalves Dias incorpora o byronismo de temática neo-elisabetiana, mística ou sádica, dos ingleses e, sobretudo, dos alemães, dentro de uma técnica ainda “clássica e aristotélica”. Considerando a assertiva do diretor de teatro, o presente texto investiga quais características da literatura gótica são aproveitadas na obra gonçalvina colaborando para a efetividade dramática da peça. Sopesou-se também a singularidade com que os paradigmas desse gênero foram empregados pelo dramaturgo brasileiro. Vale lembrar que a literatura gótica e a romântica são cronologicamente próximas e dividem alguns temas, como o do herói transgressor, cujo processo mental interior é explorado em detrimento das ações exteriores. Nesse sentido, a exposição da interioridade das personagens avança tornando-as mais complexas. Os caracteres assumem um caráter ambíguo, muitos deles, por exemplo, expressam grandeza de caráter, mas devido às circunstâncias, essa superioridade é empregada para fazer o mal. O vilão-herói vai sempre contra a norma estabelecida e é sempre contrastado a outra personagem que, contrariamente, representa essa ordem. O leitor é, ao mesmo tempo, repelido pelo sadismo e envolvido pela trágica história de vida de figuras como Frankenstein, Heathcliff e Ahab. Assim, no drama gonçalvino infere-se que a literatura gótica se reverbera na figura do herói apaixonado que desafia as convenções sociais e se autodestrói, na feição um pouco demoníaca de um duque sedento por sangue. Em Leonor, a vítima, como estereótipo advindo dos romances góticos da “perseguida”. Na atmosfera de morte fortemente marcada nas falas e na caracterização do ambiente, bem como no adensamento do pathos com a sensação de escoamento do tempo.
Palavras-chave: Literatura Gótica. Romantismo. Gonçalves Dias. Leonor de Mendonça.