Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
A narrativa subterrânea de A Hora dos Ruminantes: J. J. Veiga entre a Geopoesia e a Tanatografia
Marcos Eustáquio de Paula Neto (Universidade de Brasília)
Propomos análise do romance A Hora dos Ruminantes (1966), de J. J. Veiga, que articule os conceitos de geopoesia, evocado no título do ST aqui indicado, e tanatografia, ambos formulados por Augusto Silva Junior. O intuito de tal articulação teórica é explicitar certa correspondência diametral entre os estudos da “escrita da Terra” (SILVA JUNIOR; MARQUES, 2015) e da “escrita de morte” (SILVA JUNIOR, 2014), que convertem o romance veiguiano em uma narrativa subterrânea (compreendida pela tradição dos diálogos socráticos e luciânicos, esmiuçada por Mikhail Bakhtin, 2018). Deste modo, os elementos funéreo e telúrico, abordados na produção do autor goiano enquanto alegorias (BENJAMIN, 2019) de uma cognoscibilidade em progresso – “fragmentária e inconclusa” (BOLLE, 2018, p. 1725), correspondem às experiências marginalizadas descritas na obra. Tratamos de uma “busca pelo invisível” que encontra n’A Hora dos Ruminantes conteúdo de rica e sensível exploração. Esse percurso revela o município de Manarairema como um “mundo submerso” (PRADO, 2022, p. 12) que extrai da própria terra ingredientes para uma literatura limítrofe. A viagem e a invasão dos animais (cachorros e bois) apresentam-se como situações excepcionais capazes de incitar experimentações estilístico-narrativas e reflexões filosóficas em torno da “inversão da ordem” (VEIGA, 2022, p. 62) instalada pela ficção. O caráter experimental do fantástico (BEZERRA, 2005, p. 131) em Veiga fornece um desassossegamento de vozes e de ideias, característico de migrações coletivas, e movimenta as relações dialógicas (BAKHTIN, 2018) que intuímos em nossa abordagem – entre a crítica geopoética e a tanatográfica. Com tais cruzamentos, esperamos compreender as situações limítrofes da narrativa subterrânea romanesca como propulsoras de um conhecimento luciférico (BOLLE, 2011, p. 12) e sensível das vivências dos seres ruminantes – humanos ou não humanos.
Palavras-chave: J. J. Veiga; Geopoesia; tanatografia; Narrativa subterrânea; Hora dos Ruminantes.
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