Frederico de Lima Silva, Hermano de França Rodrigues
É notório o fato de estarmos vivenciando, em nossa contemporaneidade, um culto ao sofrimento. Tal fato resulta, quiçá, de um processo de subjetivação característico da pós-modernidade, marcado por excessos narcísicos, cujos sintomas mais expressivos são o desamparo e a violência, os quais conduzem o sujeito a experiências de angústia frente à própria vida. Essa conjuntura explicita, de certo modo, o apego e o fascínio humanos à dor, extraindo, das brumas da moralidade, uma dimensão sádica que, antes dissimulada e encoberta, ganha, doravante, espaço e notoriedade. Somos sujeitos em busca de referências, de (re)elaborações, e a nossa cultura parece experienciar um momento de falência ética, que nos impõe um contato mortífero com a dor e o vazio, chegando, por vezes, à aniquilação do próprio desejo, em decorrência de um mais gozar. Sem dúvida, essas reflexões nos arremessam à conclusão de que, em nosso tempo, a Cultura, em sua relação suplementar com a natureza humana, incorpora de forma desmedida componentes cada vez mais perversos. Assim, numa integração entre arte e psicanálise, propomo-nos a discutir, por meio da utilização dos postulados freudianos acerca da perversão, como se tecem os laços tanáticos no contemporâneo, utilizando, para isso, a metaforização desses impulsos destrutivos na canção “Assum Preto”, composta por Humberto Teixeira, e eternizada na voz de Luiz Gonzaga.
Palavras-chave: Assum Preto. Literatura. Psicanálise.