Tendo como objeto de análise o álbum de “fotos pensadas” denominado Errâncias, de Décio Pignatari (1999), publicado para comemorar os cinquenta anos de sua atividade poética, as reflexões desenvolvidas neste ensaio procuram verificar em que medida o “biobalanço” proposto pelo escritor rompe com os pressupostos da poesia concreta, conforme expostos no plano piloto da poesia concreta, no que diz respeito às questões biográficas. Constituindo-se como um “memorialismo semiótico”, Errâncias é aqui caracterizado simultaneamente como texto biográfico e autobiográfico, expondo explicitamente o seu processo de construção interdiscursiva e intersemiótica, ao entrelaçar diversos signos, estabelecendo-se como errâncias verbo-icônicas, fotoescrituras, viagens através de gentes e lugares e por tempos desconexos. Ao recuperar a biografia de pessoas com as quais conviveu, Pignatari reconstrói a sua autobiografia, amalgamando muitas histórias e memórias. Constata-se que o livro, na sua macroestrutura, rompe com a sequência linear e com o encadeamento lógico dos capítulos, atualizando um traço que está inscrito nos manifestos dos anos 1950-1960 da Teoria da poesia concreta. Neste sentido, Errâncias convoca o leitor a vagar entre signos, a deambular entre distintas territorialidades e temporalidades discursivas, arrincando-se nos desafios da movimentação de seus fluxos, das idas e vindas dos signos nos seus trançados intersemióticos. Conclui-se assim que, nestas errâncias, encontram-se os múltiplos Pignataris: o fotopoeta, o crítico, o teórico, o designer, o docente, o performador de linguagens.