Partindo da diferenciação da memória coletiva entre memória social e memória cultural proposta por Jan Assman e da relação entre a memória como literatura e a literatura como memória, podemos afirmar que a literatura pré-colombiana é resultado da transformação abrupta da memória social sincrônica numa memória cultural diacrônica com os códigos da cultura europeia e diante da evidência da desaparição das culturas americanas nativas. Nesse sentido, e retomando os termos de Ricoeur para falar da escrita da história, se conclui que a literatura não só instruiu a memória coletiva, como também feriu a dimensão dessa memória. Daí que, no lugar de memória cultural, seja mais pertinente falar de uma memória imposta ou colonizada, produto da intervenção acontecida durante o processo de formação desse corpus que hoje identificamos como literatura pré-colombiana. Por isso, melhor que em literatura pré-colombiana, tal vez devamos falar em versões dessa literatura, ou num substrato ameríndio que está presente numa literatura colonial indígena.
Palavras-chave: Memória coletiva. Literatura pré-colombiana. Memória cultural. Literatura indígena.