Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
A mística da escrita na exaustão do leitor
Antonia Torreão Herrera (Universidade Federal da Bahia)
Proponho-me a ler o texto de Jorge Luís Borges, A escrita do Deus. Os sinais de uma escrita desenhada por um deus na pele de um jaguar têm a dimensão de uma mística da escrita, no apagamento do indivíduo e da comunidade a qual pertencia. Apesar de não se tratar de uma experiência de escrita mística, há uma intensa ação de leitura que envolve aspectos de treva e luz, cegueira e visão, sonho e discernimento, na qual se cruzam acuidade intelectiva na decifração dos signos e êxtase místico na dissolução da soberania do sujeito que, no limite da razão e da morte, encontra a plenitude do todo, de Ninguém. O pensamento socrático, binário, dá uma guinada para o pensamento mágico, no qual o conhecimento do sujeito não é mais soberano porque não exerce mais comando sobre uma comunidade. Na decifração do enigma, escrito na pele do jaguar, não se ergue um herói que é recebido na cidade, vitorioso e cioso da supremacia de seu conhecimento e sim o apagamento de toda e qualquer ação porque o sujeito, após a exaustiva experiência, está plenamente integrado ao cosmo e não mais necessita resistir à tortura que lhe foi infligida nem ir em busca de seu reinado e tesouros que lhe foram usurpados porque não lembra mais de si nem do outro. O mago Tzinacan pode destruir seu algoz, Pedro de Alvorado, e reconstruir o império de Montezuma, mas não há mais sentido nesse gesto. “Que morra comigo o mistério que está escrito nos tigres” (BORGES, 1973). Agora, detentor de todo poder, não o exercerá porque como conhecedor de todo o universo, desconhecerá a si como recorte de vida individualizada. Todavia, a comunicação se processa na lucidez de sua cegueira; leitor excessivo que decifra os signos e os organiza em sua escrita.
Palavras-chave: Jorge Luís Borges; soberania; mística; escrita;
VOLTAR