O romance Cunhataí (2003), da escritora cuiabana Maria Filomena Bouissou Lepecki (1961-), além de atentar para um segmento pouco representado na historiografia e, inclusive, na literatura voltada aos eventos da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), com a representação da mulher na contenda e a interpretação do conflito sob a ótica feminina, utiliza outro estratagema para rasurar a noção de nação e seus desdobramentos: a dupla nacionalidade. Trata-se do dilema enfrentado por Ângelo, a quem Micaela, protagonista da história, desposa na trama. Filho de um brasileiro com uma paraguaia, o oficial convive em um bólido de heranças étnicas e culturais que o perturba dada a sua perigosa atuação como espião dos paraguaios, infiltrado no Exército imperial do Brasil. Fala em português ou espanhol, mas sonha em guarani. A comunicação tem como objetivo pensar a respeito da condição ambivalente de Ângelo no cenário bélico como um exemplo de deslizamento de identidades sobrepostas e negociadas que rivalizam com a perspectiva essencialista de identidade nacional.