A partir de uma breve definição do conceito grego de nekyia — um rito por meio do qual as almas dos mortos eram conjuradas para serem questionadas sobre o futuro — e da aproximação de tal conceito ao entendimento atual de necromancia, pretendemos, nesta comunicação, apresentar uma análise de duas cenas constantes em textos clássicos da tradição literária grega e latina: a cena em que o herói Odisseu abre uma passagem para o mundo dos mortos no canto XI da Odisséia, de Homero; e a cena em que o herói Enéias adentra o mundo dos mortos, com a ajuda da Sibila, no canto VI da Eneida, de Virgílio. Intentamos, com a análise de tais cenas, reafirmar o que defendemos no artigo “Antes de Otranto: apontamentos para uma pré-história do gótico na literatura” (Revista Soletras, v. 1, nº 27, p. 11 – 31, 2014), qual seja a idéia de que há uma “pré-história” da ficção gótica expressa em textos literários anteriores à publicação de O castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, considerado a obra que funda o gênero.