Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
A lírica cancional brasileira em “Você-você”, de Caetano Veloso: não podes negar que é lindo
ENIO BERNARDES DE ANDRADE (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Esta comunicação tem como objeto a canção “Você-você”, lançada por Caetano Veloso em seu álbum mais recente, Meu Coco (2021), com participação da cantora portuguesa Carminho. A partir da análise da obra, propõe-se uma discussão sobre a autoafirmação da língua portuguesa falada no Brasil por meio da poética vocalizada das canções gravadas. Tal reflexão envolverá o mote para a composição da faixa, criada diante do fato de a cantora Carminho retirar a expressão “você” das letras de canções brasileiras por ela cantadas; a análise da construção poética em versos fixos e sua relação com as poesias escrita e cantada, brasileira e portuguesa; os procedimentos musicais e entoativos da composição, bem como a performance vocal dos intérpretes; e os intertextos e citações nominais, evocando encontros e distanciamentos entre Brasil e Portugal. A incorporação, na letra, do verso “o orvalho vem caindo”, de Noel Rosa, será discutida como procedimento metonímico representativo da lírica cancional edificada no Brasil a partir da década de 1930, a qual é reverenciada como marca da força poética da canção no Brasil ao ser entoada na performance vocal de Caminho, sucedida do verso: “não podes negar que é lindo”. Assim, a perspectiva de percurso da língua é invertida: o afastamento (que pressupõe um encontro anterior, no qual a língua portuguesa chegou ao Brasil) é convertido em encontro de vozes, sob a força da cultura brasileira, cuja marca é a lírica cancional sintetizada no verso de Noel. Como referencial teórico, serão utilizadas reflexões do próprio Veloso em Verdade Tropical (1997), estudos sobre a canção e Caetano Veloso em autores como Luiz Tatit (1996, 2008) e José Miguel Wisnik (2004); e sobre a voz, em Adriana Cavarero (2011) e Paul Zumthor (2010).
Palavras-chave: canção; literatura; música; Caetano Veloso; Noel Rosa.
VOLTAR