Este trabalho discutirá o canto décimo do poema épico O Guesa, do poeta brasileiro Sousândrade (1832-1902). Os pesquisadores da obra de Sousândrade apontam que o canto décimo critica o capitalismo do período da expansão econômica americana da década de 1870. Contudo, nosso objetivo é mostrar como essa suposta crítica ao capitalismo no referido canto é relativa. No poema sousandradino, a exaltação do capital nos Estados Unidos da segunda metade do século XIX parece afinar-se com o éthos protestante do trabalho e acúmulo material do qual nos fala Max Weber (2004), pois para o poeta brasileiro o dinheiro fruto do trabalho árduo é bem vindo, ao contrário dos ganhos oriundos de atividade que não figurassem como símbolo do labor dedicado a Deus, como jogos e apostas financeiras. Por isso os robber barons, que construíam suas fortunas em transações na bolsa de valores, são no poema associados ao mal e ao inferno. Assim, é possível aproximar Sousândrade de autores americanos do mesmo período que escreveram sobre a NYSE conduzidos pela concepção puritana de pecado, que condenava o enriquecimento por meio de especulações e fraudes na bolsa de valores (Westbrook, 1980), como foi o caso de Edmund C. Stedman (1833-1908) no poema Israel Freyer’s Bid for Gold.
Palavras-chave: Sousândrade; O Guesa, Poesia; Século XIX; Edmund Clarence Stedman; Estados Unidos