Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
A lágrima compartilhada entre personagens e autora: Svetlana Aleksiévitch, a polifonia e a edição testemunhal
João Camilo Grazziotin Portal (Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS))
O presente trabalho possui o objetivo de analisar a autenticidade testemunhal na literatura de Svetlana Aleksiévitch. A análise dos textos será realizada em diálogo com questões recentes trazidas pelos tradutores franceses da autora no que tange à modificação dos testemunhos ao longo das diferentes edições. Com efeito, o tema será atravessado por meio do conceito polifônico de Bakhtin, com foco na deformação testemunhal, a fim de colocar a autoria de Aleksiévitch na função monológica. A formação da voz autoral será vista através dos processos judiciais contra a autora em Meninos de Zinco; de suas exposições em primeira pessoa em A guerra não tem rosto de mulher; de seu discurso Nobel. Dessa forma, se discutirá a mobilização da figura autoral colocada no meio dos testemunhos, a fim de perceber suas esguias aparições como um subtexto político e dramático. Ao mesmo passo em que a autora construiu para si uma posição monológica, sua literatura também carrega a marca de uma oração coletiva e ética para nosso tempo. Essa posição oratória de prece será analisada por meio da ideia testemunhal de Paul Ricouer a partir da posição de comunicação do sofrimento que o escritor ocupa em seu tempo, segundo Deleuze. Assim, a autora também será vista como uma testemunha vicária dos traumas sociais soviéticos, em consonância com as políticas de transparência da Glasnost. Nesse sentido, não se pretenderá relegar a autora à mera e falsa posição de “mentirosa”, mas sim entender a atualização de sua voz autoral a partir da tradução sentimental por ela realizada. Assim, se problematizará a escuta e a transcrição das entrevistas por ela realizadas, bem como sua posição ética de pranteadora.
Palavras-chave: Svetlana Aleksiévitch; trauma; oração; testemunha; representação do sofrimento
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