ANA GABRIELA PIO PEREIRA, PAULO CÉSAR SOUZA GARCÍA
Desde o romance de estreia, A volúpia do pecado (1948), Cassandra Rios publicou mais de quarenta títulos, tornando-se, ao longo de uma carreira de aproximadamente quatro décadas, muito popular. Esta popularidade se deve à trajetória de uma produção literária que instigava leitores/as a desvelar personagens consideradas depravadas, perniciosas, erotizadas. Em plena ditadura militar brasileira, os livros de Rios se notabilizavam pelo investimento em um processo de reversão da moral vigente e por escritas que permitem outras possibilidades de leituras direcionadas para os constructos de identidades de gênero e de sexualidades. Por este perfil, a obra de Cassandria cria faces que desmontam o cânone e constroem discursos acerca dos corpos das mulheres lésbicas, contribuindo, assim, para a constituição de outros lugares de fala. Neste texto, pretendo analisar e refletir a respeito da maneira como a identidade lésbica se configura na narrativa As traças. Não se trata somente de desconstruir o desejo pela naturalização do corpo e sim buscar, na escrita do romance, críticas relacionadas aos fatores preponderantes que identificam a mulher como assujeitada e libertina, quer dizer, a disciplina, a norma, de um lado e a quebra dos conceitos e rompimentos heterossexistas, de outro, afloram para ler/ver a existência do feminismo lésbico através da heteronormatividade. A partir das impressões dadas pela autora, cabe posicionar a análise que visa às relações subjetivas e os desejos revertidos do feminino.