Natali Fabiana da Costa e Silva (Unesp), Orientador: Luiz Gonzaga Marchezan (Unesp)
Este trabalho pretende elaborar uma análise comparativa dos romances Que enchente me carrega? (2000) e Bolero de Ravel (2010), do autor contemporâneo Menalton Braff. Por meio do referencial teórico do fluxo da consciência, buscar-se-á deslindar o modo como as memórias dos protagonistas funcionam como resistência e fuga à realidade objetiva que lhes cerca. O que possibilita a aproximação dessas duas narrativas é, em primeira instância, a maneira peculiar encetada pelo trabalho memorialístico. Os protagonistas Firmino e Adriano são assaltados por certo número de situações de memórias recorrentes ao longo de toda a narração. A obsessiva aparição dessas situações aponta para um recuo em direção ao eu, conforme conceito do historiador estadunidense Christopher Lasch (1987). Lembramos que o termo adjetiva o movimento da arte e da literatura num período em que não se pode vislumbrar na realidade exterior referências para o agir e sentir humanos e, portanto, Firmino e Adriano encontram no passado – presentificado pelo seu eterno retorno – uma maneira de resistir ao sentimento de impotência perante a realidade externa e à estrutura social corrosiva e alienante. Observamos personagens cujas vidas estão em ruínas e que, diante de seu desencaixe no mundo, optam pelo isolamento social. Buscamos destacar a organização mnemônica como reação à ordem que se impõe. Nesse sentido, o fluxo da consciência – visto pelo prisma de Belinda Canonne e Robert Humphrey – não apenas organiza as repetições como, devido a sua maneira de organização, imprime na estrutura narrativa a própria crise em si e estabelece o olhar do narrador para o mundo.
Palavras-chave: Fluxo da consciência, Memória e Resistência, Menalton Braff