José Elias Pereira Hage, Prof.ª Dr.ª Marli Tereza Furtado (orientadora)
Em dez romances, publicados entre 1941 e 1978, o escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909 – 1979) construiu o ciclo Extremo Norte, no qual intentou revelar o viver Amazônico do ponto de vista de personagens fortes e de heroica humanidade. Em Chove nos campos de Cachoeira, primeira obra do ciclo, nos deparamos com o personagem EUTANÁZIO, que no decorrer do romance se envolve com alguns traços característicos da pobreza e decadência amazônica. Dalcídio Jurandir expõe uma realidade inquietante, contestadora, de resistência aos padrões estabelecidos. A falta de bens e serviços essenciais e a carência de recursos econômicos são vistas como uma forma de exclusão social. Eutanázio se sente marcado pela terrível carência financeira em que vive. A falta de dinheiro repercute nele internamente, criando uma série de conflitos e divagações que o levam a escolhas pessoais que determinam sua desestruturação. A carência financeira reverbera na obra de Dalcídio explicitando também em outros personagens a consequência da pobreza. Em Chove nos campos de Cachoeira, em diversos trechos, a decadência circula Eutanázio e invade a sua intimidade em suas elucubrações internas, e por meio dela o personagem estabelece uma base de resistência contra o padrão estabelecido, desenvolvendo um comportamento que contraria o paradigma do sujeito capitalista. Ele caminha entre ruínas. Seu corpo tomado por uma doença que se prolifera, contra a qual não consegue (ou não quer) somar forças para lutar, expõe a sua falta de capacidade diante dos fatos da vida. Esse trabalho pretende estudar essas relações.