Neste trabalho propomos a análise literária entre a poética do cordel Pequena história do Caldeirão à guisa do romance popular, de Artur P. Alves e o enredo do romance Caldeirão, de Cláudio Aguiar. A partir do cotejo das referidas obras damos primazia ao discurso que se apresenta como trágico, quando o herói da narrativa vai da ventura ao infortúnio. Para isso, seguimos os pressupostos de Aristóteles (1992) e Vernant (2005). Outro aspecto que nos interessa é conferir se o conceito de Compagnon (1999) acerca do efeito de real é realizado entre as duas produções, com vistas a certificarmos se houve influência de uma literatura sobre a outra. Uma vez que Alves afirma na capa do seu cordel que sua obra foi inspirada no romance de Aguiar. Além disso, comparamos nessas obras aspectos semelhantes e divergentes de como verbalizaram os fatos referentes ao episódio ocorrido no sertão cearense nos idos de 1938. O cotejo entre os pontos de vista desses autores, cuja formação acadêmica pode vir a sugerir a escolha de um lado comum da história do Caldeirão para narrar, é apoiado na observação do nascer de um grupo de pesquisadores que denominamos de Geração de 1980. Entendemos que referido grupo se interessou em trazer à tona os desdobramentos da guerra das elites contra o povo que vivia nas terras do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, sob a acusação de que ali se praticava o comunismo. O Caldeirão seria uma segunda Canudos se não fosse desarticulado e tivesse preso seu líder, o beato José Lourenço. A culminância decorrente da intolerância da sociedade cearense foi de centenas de desterritorializados, mortes e destruição de projetos de vida, segundo consta nas narrativas apreciadas. Os autores aqui em reflexão fazem parte de uma geração cujas produções buscam legitimidade em trabalhos cuja assinatura lhes conferem credibilidade. É assim com Alves, o historiador e o advogado Aguiar. Ambos interessados em fazer vibrar a memória do Caldeirão sob forma de cordel e romance.
Palavras-chave: Literatura comparada, Cordel e romance, Caldeirão