Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
A descrição do mundo, por Veronica Stigger
Larissa Costa da Mata (Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) / PPGL-UERN)
A literatura contemporânea latino-americana se caracteriza por sua desterritorialização e pelo não pertencimento a categorias disciplinares ou artísticas. Nesse sentido, Isabel Jasinski (2022) reconhece a “escrita nômade” em autores que estabelecem laços de amizade e vínculos entre a ficção e a realidade, favorecendo o percurso em detrimento do estado. Por sua vez, Florencia Garramuño (2014) compreende a perda da especificidade da ficção (de Mario Bellatin, Carlito Azevedo e Nuno Ramos) como um discurso autocrítico da literatura, colocando em xeque a noção de pertencimento. A escritora brasileira Veronica Stigger pode ser considerada parte dessa tradição que desborda o texto literário e se torna “impura” (Eneida Maria de Souza, 2021) ao confrontar texto e arquivo, temporalidades e gêneros diferentes em Opisanie ?wiata (2013). Esta comunicação pretende analisar esse romance, cujo título significa “descrição do mundo”, por meio de seus procedimentos estéticos, compartilhados com Oswald de Andrade (o da cópia/invenção, o da blague, o do vínculo entre literatura, arquivo e imagem), bem como da referência à literatura de viagem, retomada pelos modernistas brasileiros (Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Raul Bopp, entre outros). Se, nessa vanguarda, a viagem propunha-se ao aprendizado do turista, à busca das origens telúricas, e à pesquisa etnográfica, focalizando, muitas vezes, a velocidade, em tradições anteriores, voltava-se à descrição naturalista e pitoresca de uma paisagem estática e deserta (Jens Andermann, 2018). Segundo veremos, sem narrar nem descrever propriamente, Stigger revela, em contrapartida, uma concepção de mundo como montagem, como um conjunto que coloca em relevo a técnica, e, por isso, é sem fim e sem começo, posto que a experiência deixa de ser a da apropriação de um significado, para tornar-se a do próprio sentido (Jean-Luc Nancy, 2003).
Palavras-chave: Veronica Stigger; Modernismo Brasileiro; Narrativa de Viagem; Literatura Contemporânea.
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