Ramon de Santana Borges de Amorim (Universidade Federal da Bahia)
A comunicação tem como objetivo discutir como a “guerra à doença”, expressão oriunda do correspondente latino “bellum contra morbum”, tem sido uma forma de abordagem recorrente da temática do HIV/aids em narrativas brasileiras. Pretende-se verificar a presença de vocabulário e ideias relacionadas a elementos que façam referência ao universo bélico, como invasão, batalha/luta contra o inimigo, camuflagem, arma, resistência, derrota/derrotado, além de diversos outros termos que trafegam no âmbito militar, e de que forma eles são utilizados em referência ao vírus e à doença nas narrativas Amarga herança de Leo (1999), de Isabel Vieira, Pequeno segredo (2016), de Heloisa Schurmman, e O complexo melancólico (2019), de Guido Arosa. Como suporte teórico para refletir sobre as questões que se impõem, recorreu-se a produções como Aids e suas metáforas (1989), de Susan Sontag, Aids na terceira década (2006) e “Da persistência das metáforas: estigma e discriminação & HIV/Aids” (2013), de Francisco Inácio Bastos. O foco deste trabalho trafega na verificação de como esse ideário relacionado à guerra tem sido utilizado como metáfora para estabelecer a presença da abordagem da epidemia emergente no início da década de 1980 nas obras indicadas e como essa abordagem ainda se perpetua em produções mais recentes, promovendo o corpo a campo de batalha da representação dessa “guerra”.