Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
O realismo contemporâneo e a Revolução Haitiana
Dionisio David Marquez Arreaza (UNILA)
O trabalho estuda a relação histórica entre o romance e a constituição (política) como formas escritas de realismo em textos contemporâneos como Bicentenaire (2004) do escritor haitiano Lyonel Trouillot e Yo maté a Simón Bolívar (2010) do venezuelano Vicente Ulive-Schnell. Vou tentar o argumento historicista de que o realismo - entendido como expressão ampla, não só literária, historiograficamente consolidada no século XIX - ganha suas condições discursivas de origem no final do chamado Século das Luzes (XVIII) no contexto dos impactos político-culturais provenientes das Revoluções Francesa e Haitiana. O que chamo de “linguagem iluminista” (MÁRQUEZ, 2021), baseada na ideia-força de ‘liberdade’, nutriu a escrita política pré e pós-revolucionária na Europa e na América, como em Rousseau, Louverture e Bolívar, do mesmo modo que nutriu a escrita propriamente literária de Bello, Alencar e Flaubert. Assim, não há como entender a reconhecidíssima Revolução Francesa, e as contradições do realismo constitucional, sem a valorização da Revolução Haitiana, ainda hoje “silenciada” pela historiografia euro-cêntrica (M.-R. TROUILLOT, 1995; BUCK-MORSS, 2000; FERRER, 2014), do mesmo modo como não há como desvincular os realismos literário e político da vasta idea-força moderna de liberdade que os origina, une, relaciona ou contrasta. A indeterminação funcional das escritas contemporâneas (LUDMER, 2007; GARRAMUÑO, 2014) recupera em chave crítica e negativa o caráter livre e diverso que deu origem ao realismo faz mais de duzentos anos. Como exemplos de caso, os temas da manifestação de rua, a violência social e as crises nacionais ficcionalizados em L. Trouillot e Ulive-Schnell reclamam aquela ‘liberdade’ em termos por igual estéticos, políticos e históricos. A manifestação de rua, ato democrático quintessencial, dentro de um romance, pode ser entendido pelo leitor como ato e fala política, que cobra hoje a promessa constitucional não cumprida da emancipação social desde as revoluções oitocentistas.
Palavras-chave: Realismo; romance; constituição; democracia; América Latina
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