Carolina de Pinho Santoro Lopes (Colégio Pedro II)
A música pode contribuir para a formação da identidade e da sensação de pertencimento a determinado grupo. As diversas referências a canções em A Scots Quair, de Lewis Grassic Gibbon (1901-1935), representam esse processo de construção identitária por meio de performances musicais. A obra em análise é uma trilogia composta pelos romances Sunset Song (1932), Cloud Howe (1933) e Grey Granite (1934). A narrativa se passa nas primeiras décadas do século XX, entre 1911 e os anos 1930, no nordeste da Escócia, região natal do escritor. Cada volume de A Scots Quair tem como cenário um local ficcional, respectivamente: o vilarejo de Kinraddie, a pequena cidade de Segget e a metrópole de Duncairn. Com isso, a trilogia acompanha a transição de um ambiente rural para uma área urbana e industrializada. Essa modificação espacial está ligada a uma transformação nos modelos de comunidade e na relação dos personagens com a tradição musical. Enquanto a tradição musical escocesa é parte importante das celebrações comunitárias em Sunset Song, essas canções têm um papel de menos destaque no último romance. Em Grey Granite, no entanto, é possível perceber a formação de um novo repertório compartilhado, com um aspecto mais internacional, constituído por canções políticas de esquerda. As referências a essas músicas também sinalizam o progressivo envolvimento do jovem Ewan, um dos personagens centrais, com a política.