MARINA ALMEIDA SIMOES DO NASCIMENTO (Universidade de São Paulo)
A partir de uma leitura de As fabulosas fábulas de Iauaretê (2007), do escritor indígena Kaká Werá Jecupé, e de alguns contos do livro Murugawa (2007), do escritor indígena Yaguarê Yamã, analisaremos como as histórias narradas, voltadas para o público juvenil, retratam personagens não-indígenas e o que essas referências revelam sobre o olhar indígena para o mundo ocidental. Nessas representações do “branco”, os dois autores transformam o não-indígena no “outro”, aquele de quem se fala – invertendo, assim, a posição em que os indígenas foram colocados por muito tempo. Viveiros de Castro, no prefácio ao livro A queda do céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, identifica na obra uma “contra-antropologia” (2015, p. 24), por apresentar a voz de um indígena que narra sua cultura para o não-indígena ao mesmo tempo em que analisa o funcionamento da sociedade ocidental. De forma semelhante, nessas obras, podemos perceber como, por meio de alguns personagens, os autores indígenas nos apresentam sua visão sobre o mundo não-indígena – um mundo com o qual mantém estreito contato, ainda que venham de um outro universo cultural. De onde falam, nesse lugar de fronteira entre as duas culturas, suas histórias nos revelam um olhar crítico para essa sociedade. Ao mesmo tempo, parecem vislumbrar um lugar onde a existência do diferente é reconhecida e o convívio é possível.
Palavras-chave: Literatura indígena; alteridade; Yaguarê Yamã; Kaká Werá Jecupé.